São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Candidatos apóiam o acordo com FMI

Oposição muda discurso para pleito presidencial

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Coréia do Sul, Kim Young Sam e os principais candidatos à sua sucessão prometeram ontem apoio ao pacote de ajuda financeira do FMI (Fundo Monetário Internacional).
O acordo acertado no início do mês viabilizou empréstimo de US$ 57 bilhões, o maior do gênero. A contrapartida foi a promessa de adoção de um programa de contenção de gastos que visa recolocar a economia nos trilhos, depois do colapso da moeda nacional e da Bolsa de Valores de Seul (capital).
Na próxima quinta-feira, a Coréia do Sul elege seu novo presidente. O documento divulgado ontem foi assinado por Kim e três candidatos presidenciais.
A Coréia do Sul é obrigada, pelo acordo fechado com o FMI, a crescer no máximo 3% no próximo ano (a metade do que planejara antes da crise), fechar empresas e reestruturar o sistema financeiro.
São medidas que provocarão desemprego, num país em que até pouco tempo atrás o emprego vitalício era uma perspectiva real. Fala-se em 1 milhão de desempregados em decorrência da aplicação do receituário do FMI.
Os dois principais candidatos, de um total de sete, reagiram, no começo, de maneira diferente ao pacote -e podem ter selado seus futuros políticos com as opções.
O governista Lee Hoi Chang, 62, identificado com a elite empresarial, manifestou apoio ao acordo.
O oposicionista Kim Dae Jung, 74, que tem o apoio dos sindicatos, também o endossou, mas com ressalvas que podem levar à rediscussão do acordo.
No final da semana, Kim voltou atrás, manifestou apoio formal ao acordo, mas sua declaração foi recebida com ceticismo no exterior.
Os dois estão praticamente empatados nas últimas pesquisas, com ligeira vantagem para Kim Dae Jung.
Político veterano, com passado social-democrata, tendo ficado dez anos entre a prisão domiciliar e o exílio, Kim parece ter conseguido capitalizar a insatisfação popular com o acordo.
Fez ataques retóricos criticando a ameaça à soberania nacional e antecipou-se a demandas de sindicatos, dizendo aos representantes do FMI que quer rediscutir a questão da garantia de empregos, que desaparece segundo o receituário ortodoxo.
Lee, que já foi primeiro-ministro do atual presidente, Kim Young Sam, tendo deixado o governo em protesto há três anos, preferiu apostar no conservadorismo do eleitorado que às vezes aflora em momentos de crise aguda, quando o sacrifício da sociedade se torna alternativa inevitável.
O clima de frustração que se percebe em Seul, a capital, parece favorecer Kim na reta final.
A outra Coréia
O acordo com o FMI deu à campanha o grande assunto que estava faltando, numa disputa em que as diferenças ideológicas não são tão grandes (Kim hoje é simpático à tese liberal).
Até então, os dois trocavam acusações pessoais que não levaram a lugar nenhum. Kim teria usado irregularmente doações de campanhas anteriores.
Lee se viu às voltas com insinuações de que seus filhos manobraram para escapar do serviço militar. O alistamento é importante num país dividido, principalmente porque a outra parte, a empobrecida e comunista Coréia do Norte, está à beira da ruína, sete anos após ter sido abandonada pela União Soviética, e depende da ajuda internacional para poder alimentar a população.
Depois de um hiato de 44 anos, as duas Coréias voltaram a conversar na semana passada, junto com os outros dois países que tomaram parte na Guerra da Coréia, os EUA e a China. A reunião aconteceu na Suíça, em nível de vice-ministros.
Apesar da iniciativa, não se acredita que a solução esteja próxima, principalmente agora que o Sul deverá passar bom tempo sem dinheiro disponível suficiente para bancar qualquer projeto de reunificação da península.

LEIA MAIS sobre a Coréia do Sul à pág. 2-6

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