São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Aí tem...

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Não dá para entender. O mesmo governo que acaba de lançar o pacote 51 contra o déficit público é o que agora acena com R$ 300 milhões para a Prefeitura de São Paulo.
O lado mais visível do pacote foi o aumento do IR, mas ele não ficou só nisso. Também restringiu créditos para Estados e municípios, uma fonte inesgotável de déficit. Por que a exceção agora para Maluf e Pitta?
As negociações se arrastam há meses, aumentando a desconfiança de que o pedido não é tecnicamente correto nem politicamente justo. Maluf falou com FHC, Pitta com Malan. A coisa começou no Banco do Brasil, foi para a CEF, deu uma passadinha no BNDES e está de volta ao BB.
O próprio Malan disse à Folha em 23 de outubro, depois de um encontro com Pitta, que havia vetado o empréstimo. "Não dá. Converse com os bancos privados", respondera ao prefeito.
Por que Pitta não seguiu o conselho? Provavelmente, porque seria mais fácil dar calote em banco oficial. Ou porque os bancos privados não acharam o negócio rentável.
Se a operação for ARO (antecipação de receitas orçamentárias), é ainda mais intrigante. Significa pedir o dinheiro em dezembro e ter de pagar até 31 de janeiro. A não ser que se arranje um jeito de empurrar com a barriga.
Para Maluf e Pitta, é coisa de pai para filho, pois R$ 300 milhões ajudariam a pagar o 13º do funcionalismo municipal, aliviar os credores e esperar o início do novo ano, quando entram os recursos do IPTU e do IPVA.
Para Covas, é um acinte. Enquanto Maluf abria os cofres e acelerava o cronograma para eleger Pitta, ele demitia, enxugava, criava arestas com fornecedores e eleitores. Um foi a cigarra que esbanjou. Outro, a formiguinha que laborou. Qual dos dois vai morrer de frio às vésperas da eleição?
Além disso, se o governo "excepcionaliza" para uns, acaba "excepcionalizando" para outros. Principalmente se uns são velhos adversários, outros são velhos aliados e 98 vem aí.
Quem tem razão é o senador catarinense Vilson Kleinubing (PFL): "O maior problema deste país é o déficit que os próprios governos criam. Tudo o mais é secundário".

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