São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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A previdência particular

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Outro dia, comentei discurso do presidente que declarou o Estado podre -ou seja, recebera um Estado apodrecido pelo paternalismo, pelo populismo e outros pecados da era Vargas. Na minha opinião, não é o Estado que é podre, e sim os governos que o empolgam. Dei exemplos nativos e, como gostavam de dizer os militares, alienígenas.
Esqueci-me de falar na Previdência Social, que em alguns países funciona razoavelmente na iniciativa privada. No Estado brasileiro não funciona pela podridão dos governantes que recebem a contribuição do empregador e do empregado e não a aplicam honestamente, desviando-a para tapar buracos de incompetências várias no aparelho estatal. Sem falar na tolerância para com os devedores -motivo de barganhas que apodrecem mais ainda o governo.
Fico pensando na rede privada administrando a Previdência. Em caso de quebra, acidente natural de qualquer empresa, como é que ficam os segurados? Uma das razões que criaram o Estado foi a de dar continuidade legal a deveres e direitos. Até hoje a Alemanha e Áustria pagam reparações de guerra aos sobreviventes do Holocausto que se habilitaram. O próprio governo de FHC pagou indenizações de crimes que não cometeu contra adversários políticos do regime militar. Estado é isso.
Iniciativa particular é lucro. Enquanto não der prejuízo, tudo bem. Tivemos o caso recente de planos de saúde que pifaram e deixaram seus segurados na pior.
A premissa de que a iniciativa particular é mais capaz pode ser verdadeira. Mas essa capacidade se sustenta num princípio único e imutável: tem de dar lucro. Se investe dois, tem de gerar no mínimo três. Caso contrário, é tirar o time de campo e partir para outra. E aos prejudicados não adianta ir se queixar ao bispo, pois nem os bispos têm onde se queixar.

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