São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997
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A volta do cipó

JUCA KFOURI

Quem estranhou o fato de o Vasco ter entrado para disputar as finais com tantos jogadores pendurados por dois cartões amarelos deve estar se sentindo um ingênuo. Por que esses jogadores não forçaram o terceiro amarelo na goleada sobre o Flamengo? -era a questão.
Porque o Vasco já tinha tudo premeditado para dar condição de jogo a quem o levasse na decisão, sabe-se agora. Bastaria forçar a expulsão, antecipar o julgamento e, em caso de condenação, recorrer ao efeito suspensivo, como será feito.
Tudo legal, nada moral, mas quem liga para a moralidade no nosso futebol?
A ótica, aliás, é a inversa. Haverá quem diga que o Vasco tem a obrigação de usar todos os artifícios legais para pôr Edmundo em campo.
E por que não? O Palmeiras não fez exatamente isso em 1994, o que levou Rubens Aprobatto Machado a renunciar ao seu posto no STJD?
Agora, o Palmeiras apenas experimentará a volta do cipó no lombo de quem mandou dar, já dizem por aí.
Só que um erro não justifica o outro.
Que o time do Vasco merece seu terceiro título brasileiro é incontestável.
Obteve 69 pontos contra 57 do Palmeiras. Marcou 68 gols contra, outra vez, 57 do Palmeiras e, embora tenha sofrido nove a mais (37 a 28), não só tem um saldo superior em dois gols como foi capaz de se armar para sair em branco do Morumbi pintado de verde.
Portanto merece ser campeão e ponto final, até porque, exceção feita à vitória diante da Lusa no Maracanã, todos os seus demais resultados foram indiscutíveis -sem se dizer que foi prejudicado em dois penais anteontem.
Mas que seu título será maculado pela escalação de Edmundo é fora de dúvida- como foi manchado em 1974 com a transferência de seu jogo final, que deveria ser no Mineirão contra o Cruzeiro e foi no Maracanã, com arbitragem de Armando Marques calamitosamente a seu favor.
Mas nada disso importa na moral vigente, o que vale é ganhar.
Muitos até investem contra os "moralistas", confundindo moralismo com moralidade, achando que é normalíssima essa situação que faz do cartão vermelho algo menos grave que o terceiro amarelo no futebol brasileiro.
São os "realistas", os "pragmáticos", que não vêem nada demais em coisa alguma e só gostam de discutir ética no abstrato.

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