São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997
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De Sneaker Pimps a Pulp, as últimas do pop

LÚCIO RIBEIRO
EDITOR-ADJUNTO INTERINO DA ILUSTRADA

A música pop mete uma roupa vermelha, descola uma barba branca e coloca no saco natalino a última safra de lançamentos de 97, no que se refere aos bons discos nacionais e importados.
Seu tradicional CD de amigo-secreto ganha um novo e considerável repertório com as edições no Brasil dos álbuns trip-hop do Sneaker Pimps e do Portishead; o punkabilly dos Cramps; e as obras completas do Depeche Mode.
Por fim, tem o legítimo produto interno bruto: "Carniceria Tropical", do Ratos de Porão.
Confira:
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"Becoming X", Sneaker Pimps
Provavelmente a banda mais legal do trip-hop, o trio inglês Sneaker Pimps chega ao Brasil agora com este delicioso "Becoming X". O álbum é o de estréia da banda e maravilhou a cena tecno inglesa no começo do ano. Trip-hop sem ser "cabeça", o Sneaker Pimps mistura som climático, letras tristes e barulho na medida certa. Para ajudar, o vocal é feminino. Com o Sneaker Pimps, a eletrônica e as guitarras dão as mãos para atravessar o século.
(Lançamento nacional Virgin)
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"Portishead", Portishead
E tome mais trip-hop. O Portishead surgiu da cena tecno de Bristol, em 95, e arrebatou crítica e público com seu CD de estréia, "Dummy". Depois desligou os botões e sumiu. Mais de dois anos depois, o grupo veio com este "Portishead", na mesma linha: vocais densos, clima etéreo. Para o bem e para o mal, Portishead é a ponte do blues e do jazz com a música eletrônica. Se a banda fosse do começo da década, na certa estaria na trilha do seriado "Twin Peaks", de David Lynch.
(Lançamento nacional PolyGram)
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"Stupid, Stupid, Stupid", Blackgrape
A velha ginga e malemolência do britpop dance de Shaun Ryder (ex-Happy Mondays) está de volta com este "Stupid Stupid Stupid". Depois de pregar a caretice com o disco anterior, "It's Great When You're Straight... Yeah", Ryder promove a celebração da "viagem" lisérgica com a faixa de abertura, "Get Higher", o single corrente do álbum. Sem tirar nem pôr, é o mesmo estilo dance com vocal falado e repetido à exaustão que Shaun Ryder faz desde sua aparição na cena pop britânica no final da década passada com o Happy Mondays. Vai animar as festas de sempre, mas não fará novos fãs.
(Radioactive, importado)
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"When I Was Born for the 7th Time", Cornershop
Cornershop é a típica banda inglesa que faz pop para americano ver. Não é à toa que "When I Was Born..." foi eleito o álbum do ano pela revista "Spin". Lançado em setembro na Inglaterra, o Cornershop traz um som "diferente", com elementos indianos, uma cítara aqui, um sotaque inglês esquisito acolá. Parente próximo da sonoridade do Kula Shaker, o Cornershop tem a vantagem de trazer na banda um legítimo integrante de sangue indiano, Tjinder Singh. Tudo segue bem até a hora em que o som do grupo fica parecido demais com "world music" e a voz de Singh, com a de Paul Simon. (Warner, importado)
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"Big Beat from Badsville", The Cramps
O rock no que ele tem de mais insano e visceral. O psychobilly de Lux Interior e Poison Ivy ataca novamente depois de uma reclusão de três anos. É a demência no vocal, a rapidez frenética na guitarra e a bizarrice estética de sempre. A banda não muda desde quando surgiu, no final dos 70. Mas quem se importa?
(Lançamento nacional Paradoxx)
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"George Best Plus", The Wedding Present
É de emocionar o relançamento do álbum de dez anos atrás da banda inglesa The Wedding Present, de Leeds. "George Best" é o disco de estréia da banda liderada por David Gedge e traz uma das capas mais legais do rock: a foto do próprio, o jogador George Best, um dos maiores ídolos da bola na Inglaterra. Este "Plus" traz ainda dez canções extras, referentes a dois grandes singles da banda do final dos 80. Barulheira de respeito, vocais cantados com alma, parede de guitarras da melhor qualidade e letras dedicadas ao amor. É de tudo isso que o Wedding Present é composto.
(Cooking Vinyl, importado)
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Depeche Mode - discografia completa
(Lançamento nacional Paradoxx)
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"Smack My Bitch Up", Prodigy
A banda mais importante do mundo em 1997 finalmente lança seu single "Smack My Bitch Up", que vem atrelado a polêmicas do tamanho da grandeza da música. A capa original, que tinha a foto de um desastre de carro, foi proibida para não causar mal-estar nos orfãos da princesa Diana. O clipe da música foi banido da MTV americana e passa só escondido na madrugada nos países europeus. Só porque traz um hooligan inglês, bêbado, transando com uma prostituta, além de cenas de uso de drogas.... Isso é Prodigy.
(Maverick, single importado)
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"Help the Aged", Pulp
O Pulp faz parte da trinca (Oasis, Blur) soberana que dá as cartas no britpop. E Jarvis Cocker, líder da banda, ficou espiando por algum tempo para onde ia o pop inglês (você já viu acima a capa deste single?). Sem muitas respostas, Jarvis veio com este "Help the Aged". O dândi britânico continua falando direto aos corações da inglesinhas. Na grandiosa "Help the Aged", fala para a garotada dar uma mão aos mais velhos. Na bela "Tomorrow Never Lies", Jarvis diz que, como o amanhã nunca mente, é preciso viver o amanhã hoje (?!?!). E, em "Laughing Boy", o star sugere para a meninada escovar os dentes antes de sair por aí beijando garotos. O Pulp está de volta.
(Island, single importado)
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"A Life Less Ordinary", Ash
O som punk urgentíssimo dos escoceses do Ash aparece cantando a música-título do filme de Cameron Diaz e Ewan McGregor. Além do single ser muito bom, o encarte traz uma foto da loira Cameron Diaz de maiô, com uma arma na mão. Disco obrigatório.
(Infect, single importado)
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"Lucky Man", Verve
Se "Lucky Man" não estiver na lista das 10 músicas mais bonitas de 1997, eu não sei qual mais pode estar. Tirada do festejado "Urban Hymns", álbum que mostra que o alegre britpop tem, sim, seu lado melancólico, o single vem com duas versões. Em uma delas, há uma "Lucky Man" travestida de um transcendentalismo atroz, sinfônico, único. Richard Ashcroft é da hora.
(Hut, single importado)
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"Carniceria Tropical", Ratos de Porão
O outro lado da verdade tropical da música pop brasileira, mais perto da realidade barulhenta da juventude roqueira do que qualquer outra coisa. Pancadaria honesta no velho estilo hardcore do Ratos de Porão, mas que também presta tributo ao excelente momento do rap paulista (dá gosto o dueto travado entre João Gordo e Rho$$i, do Pavilhão 9, na boa "Pedra"). À Folha, Gordo disse que não é grande coisa o fato de ele deixar as letras em inglês para, no novo disco, cantar em português: "Tanto faz eu berrar em inglês ou em português. Ninguém entende mesmo". É isso.
(Lançamento nacional Paradoxx)
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Os álbuns importados citados nesta página podem ser encontrados/encomendados nas lojas London Calling (tel. 011/223-5300), Sweet Jane (tel. 011/288-4847) e Bizarre (tel. 011/220-7933)

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