São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Covas acirra críticas à equipe econômica

BERNARDINO FURTADO

DA REPORTAGEM LOCAL

Governador tucano afirma que a relação administrativa com Kandir 'não está nem um pouco boa'

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), engrossou ontem as críticas à equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso.
Atacando a política de juros e a demora do governo no exame de operações de captação de recursos do governo paulista e suas estatais, Covas deu força ao movimento de pressão dos tucanos paulistas contra a liberação de empréstimos federais para a Prefeitura de São Paulo, administrada pelo PPB do adversário Paulo Maluf.
"Não adianta o Malan (o ministro da Fazenda, Pedro Malan) prometer baixar os juros em janeiro. A redução das taxas deveria ter sido feita ontem", disse Covas.
Segundo o governador, a redução paulatina das taxas de juros deveria ter começado logo depois da aprovação do pacote fiscal de emergência pelo Congresso.
Covas disse que o governo paulista estima ter deixado de arrecadar R$ 89 milhões em impostos em novembro e prevê uma perda de R$ 120 milhões em dezembro por causa dos efeitos negativos da elevação das taxas de juros.
O governador citou a indústria automobilística, que, segundo ele, foi duramente afetada por depender muito das vendas a prazo. "Mas não é só a arrecadação do governo de São Paulo que é prejudicada. As altas taxas de juros afetam o país a começar pelo nível de emprego."
Evitando falar diretamente sobre empréstimos federais para a Prefeitura de São Paulo e governos estaduais administrados por políticos de outros partidos, como o Paraná de Jaime Lerner (PFL), Covas criticou a demora na autorização pelo Banco Central de uma operação de lançamento no exterior de debêntures da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), no valor de US$ 500 milhões.
"Só há duas empresas no Brasil com o mesmo conceito da Sabesp no mercado internacional, em termos de taxa de risco: a Petrobrás e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Apesar disso, o Banco Central paralisou o processo de autorização das emissão de debêntures da Sabesp por causa do pacote fiscal baixado pelo governo."
Segundo Covas, a decisão do BC não faz sentido uma vez que, além de a Sabesp estar em ótima situação financeira, num momento em que o Brasil necessita de recursos externos para equilibrar seu balanço de pagamentos, "a entrada de US$ 500 milhões, numa tacada só, é um fato muito positivo" num momento em que o país precisa de dinheiro externo.
Covas fez questão de destacar o quanto está irritado com Kandir, deputado paulista.
Covas se encontrou com Kandir anteontem em solenidade no Palácio dos Bandeirantes, para a assinatura de contratos de empréstimos da CEF para a Sabesp. Covas voltou a dizer ontem que sua relação com Kandir continua ruim.
"A nossa relação pessoal está boa, mas no aspecto administrativo não está nem um pouco boa. Temos vários contenciosos. Eu continuo achando que ele fez muitas coisas erradas", declarou.

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