São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Filósofo Hegel introduziu o 'universal concreto'

DA REDAÇÃO

O universal concreto é um conceito introduzido na filosofia por Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). Ele consiste num universal (numa abstração) que existe diante das pessoas sob uma forma concreta, singular.
Por exemplo, no silogismo "todo homem é mortal; Sócrates é homem, logo, Sócrates é mortal", podemos notar que o termo "homem" é um conceito determinado (uma particularidade), que se encaixa no universal "mortal" e subordina o termo singular "Sócrates".
Na lógica convencional, o universal sempre era considerado um conceito genérico e abstrato -como é o caso de "mortal". Segundo o professor-adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, Rodrigo Duarte, 40, o que Hegel traz de novo é mostrar que o universal pode existir no plano concreto, como uma síntese (uma unidade) de universal e singular. É como se o universal "morte" existisse concretamente diante dos homens.
Em seu discurso, FHC considera a humanidade como um universal concreto, resultante do processo de globalização da economia mundial. Seus antigos colegas marxistas, porém, dariam uma interpretação diferente para essa globalização -e o caminho da humanidade em direção ao "universal concreto".
Para muitos marxistas, o dinheiro é um universal concreto que existe diante das mercadorias particulares. Cada mercadoria é uma coisa determinada, que possui um certo valor. Esse valor é um universal abstrato, que adquire uma existência concreta no dinheiro. O dinheiro (esse universal concreto) é a condição de existência do capitalismo.
Na opinião desses intérpretes, o capital financeiro é um universal concreto que reflete a estrutura interna dos capitais aplicados na agricultura, indústria, comércio, mineração etc. Enquanto um comerciante transforma uma soma de dinheiro numa certa quantidade de mercadorias e as revende com lucro (seu capital tem a forma dinheiro-mercadoria-dinheiro), um banqueiro obtém lucro emprestando dinheiro para outrem (seu capital tem a forma dinheiro-dinheiro).
A estrutura dinheiro-dinheiro (uma soma de dinheiro que se autovaloriza) é um universal, que existe abstratamente dentro de cada capital particular (seja ele industrial, comercial, agrícola, mineral) e existe concretamente sob a forma de capital financeiro (cuja forma é D-D').
Segundo muitos marxistas, o que caracterizaria a etapa atual do capitalismo é a predominância do capital financeiro (desse universal concreto) sobre as formas de capital produtivo (os capitais particulares). A crise no Sudeste Asiático -que resultou nas quedas das Bolsas de Valores em todo o mundo- seria um sintoma dos limites inerentes a esse estágio de desenvolvimento do capitalismo, fundado na hegemonia do capital financeiro.

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