São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Juros altos vão afetar bancos, diz a OCDE

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Se os juros altos forem mantidos além do curto prazo, poderá haver "danos à saúde de algumas instituições financeiras" no Brasil.
O alerta consta do Panorama Econômico para 1988, emitido ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne os 29 países supostamente mais industrializados do mundo. O Brasil não é parte da organização, embora esteja entre os mais industrializados.
O alerta não deixa de conter uma ironia: o presidente Fernando Henrique Cardoso e toda a sua equipe econômica têm insistido, nas últimas duas semanas, em que o sistema financeiro brasileiro é hoje sadio em comparação com o asiático, depois de ter passado por crise semelhante à asiática em 95.
A ironia se dá pelo fato de que a resposta do governo brasileiro à crise na Ásia, na forma da duplicação dos juros, poder provocar, pela avaliação da OCDE, o mesmo tipo de problema que está ocorrendo com instituições de vários países asiáticos.
Aliás, o relatório da OCDE compra a tese do governo de que "os bancos privados no Brasil parecem estar em melhor forma relativa, em termos de capitalização, eficiência e dimensão dos empréstimos de difícil recuperação do que outras economias emergentes".
Em termos de crescimento, a OCDE aceita para 1998 os 2% que são a mais otimista previsão das autoridades brasileiras.
Mas alerta: "A baixa taxa de poupança da região (a América Latina), a dependência de financiamento externo e a consequente vulnerabilidade a choques externos, evidenciadas uma vez mais pela resposta dos mercados à turbulência financeira no Sudeste Asiático, tornam difícil retornar a altas taxas de crescimento e sustentá-las".
A "considerável" redução no crescimento brasileiro, apontado pelo relatório, leva a OCDE a prever que a produção total das Américas do Sul e Central terá um crescimento inferior a 4% em 98 (contra 4,6% neste ano).
Muitos "ses"
Para o conjunto de 29 países da OCDE, o Panorama Econômico traça para 98 um cenário menos pessimista do que o de outros organismos internacionais.
Prevê crescimento de 2,9%, apenas 0,1 ponto percentual abaixo dos 3% imaginados para este ano.
A OCDE diz que, nos EUA, por exemplo, o ritmo de atividades, embora deva se desacelerar um pouco, permanecerá próximo do potencial da sua economia.
Nos países da União Européia, a expectativa é que a expansão econômica, que "parece crescentemente sólida, deve ganhar ritmo nos próximos dois anos".
Mas prevê, igualmente, que, "em um certo número de países da Ásia Oriental, incluindo a Coréia, as perspectivas serão negativamente afetadas pela crise financeira, implicando, em alguns casos, taxas de crescimento muito menores, no curto prazo, do que as conhecidas na década passada".
Esse panorama até certo ponto otimista vem, no entanto, condicionado a uma série de fatores: só se realizará se "ações apropriadas forem tomadas rapidamente nos países diretamente afetados, para lidar com as causas fundamentais de seus problemas atuais", se não houver "adicionais choques significativos" e, por fim, se houver "adequada cooperação internacional".

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