São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997 |
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Erro estratégico torna Anchieta ineficiente ARTHUR PEREIRA FILHO ARTHUR PEREIRA FILHO; SÉRGIO LÍRIO
Resultado: líder desde a chegada ao país na década de 50, começou a perder mercado para os rivais desde o início deste ano. Há três meses já vende menos automóveis do que a Fiat. E não há expectativa, segundo analistas do setor, de que esse quadro se altere nos próximos meses. Para recuperar terreno, tem agora de acelerar a reestruturação da sua maior unidade no Brasil, a fábrica da Anchieta, inaugurada em 1957, para elevar a produtividade e reduzir custos. Isso quer dizer dispensa de trabalhadores. A empresa fala em cortar 10 mil funcionários. Ou seja, o programa de demissões voluntárias firmado ontem entre a empresa e o sindicato dos metalúrgicos não vai resolver os problemas da montadora. "A crise da Volks é estrutural, não foi provocada pelo pacote do governo ou pela crise asiática", diz Dárcio Crespi, especialista em indústria automobilística da empresa de consultoria Arthur D. Little. A decisão de efetuar uma redução drástica do efetivo na Anchieta já havia sido apresentada ao sindicato dos trabalhadores durante um seminário em outubro. Empresa e sindicato definiram, então, um cronograma até junho para discutir como seriam encaminhadas as mudanças. "Toda o esforço é para manter a fábrica da Anchieta em funcionamento. Nós temos garantias até o ano 2000 e a intenção era discutir a reestruturação com calma, mas o pacote do governo acabou atropelando tudo", afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho. Dinossauros A fábrica da Anchieta tem atualmente 22.348 funcionários, que produzem 1.500 carros por dia, desde o Gol e derivados, como Parati e Saveiro, até "dinossauros" como a Kombi, Santana e Quantum. Somente na linha de montagem desses três modelos trabalham 3.500 pessoas. Como comparação: a Ford, que praticamente construiu uma fábrica nova no ABC para produzir os carros mundiais da marca, consegue fazer 1.035 carros por dia com cerca de 7.000 funcionários. A fábrica da Fiat, em Betim, tem 24.100 empregados, mas produz 2.300 veículos/dia. Nas duas fábricas, a relação carro produzido/funcionário- é maior do que na Anchieta. Isso se deve, em boa parte, à terceirização e à montagem de carros mais modernos, que exigem menos mão-de-obra. Indefinição Para Glauco Arbix, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e pesquisador da indústria automobilística, o problema da Volkswagen é "estratégico e não de varejo". Segundo ele, a montadora "age como se não soubesse o que fazer com a Anchieta", uma fábrica que produz veículos desatualizados, emprega processo produtivo antigo e é muito verticalizada (ou seja, não apenas executa a montagem, mas produz internamente grande parte dos componentes usados nos carros). Uma demonstração dessa indefinição estratégica, na avaliação de Arbix, é a transferência dos novos projetos para outros centros, como Resende, São Carlos e Paraná. O economista Osvaldo Cavignato, da subseção do Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, relativiza as críticas à unidade de São Bernardo. Segundo ele, a fábrica produz componentes para outras unidades, o que a iguala em produtividade com outras montadoras. "A unidade de São Bernardo, por sua complexidade, não é menos produtiva que as concorrentes. Além disso, a Volks é a única montadora que tem um núcleo de desenvolvimento de produtos no Brasil", afirma. Texto Anterior: "Foi um avanço", afirma Marinho Próximo Texto: FHC não pretende receber sindicalistas Índice |
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