São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Obra analisa 160 anos da arte latina

ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sem noite de autógrafos e sem alarde, "Arte na América Latina" chega às livrarias de todo o país na próxima semana. No entanto, uma publicação sem paralelo em língua portuguesa, é digna de todas as boas-vindas.
Assinado pela crítica e historiadora inglesa Dawn Ades, o livro deve se tornar obra de referência para leitores e pesquisadores brasileiros de arte.
É o terceiro lançamento em dois meses da editora Cosac & Naify, sediada em São Paulo, e que vai cumprindo, assim, um cronograma ambicioso.
Em outra vertente, estão programados outros volumes de caráter didático ou enciclopédico sobre clássicos da pintura, escultura e arquitetura de diferentes períodos e regiões.
Com 365 páginas e cerca de 500 ilustrações, a maior parte em cores, "Arte na América Latina" aborda a produção realizada na América Latina -incluindo o olhar estrangeiro- na era moderna, ou seja, no período compreendido entre 1820 e 1980.
O livro foi originalmente planejado como catálogo da grande exposição homônima com curadoria de Dawn Ades, realizada na Hayward Gallery de Londres, em maio de 1989, e exibida também em Estocolmo (Suécia) e Madri.
Foi a maior mostra de arte latino-americana fora das Américas, mais abrangente ainda que a mostra de 92, que passou pela Europa e Nova York.
Além de textos de Ades, o livro traz contribuições do crítico e escritor norte-americano Guy Brett, além de Stanton Loomis Catlin e Rosemary O'Neill, especialistas em arte latino-americana nas universidades de Siracusa e Nova York, respectivamente.
Partindo do contexto histórico da independência dos países latino-americanos, os primeiros capítulos situam a arte das academias locais e a emergência dos temas patrióticos.
Os caipiras de Almeida Júnior e os primeiros retratos de negros (excetuando Debret), de autoria de José Correia de Lima, estão entre os destaques. Depois se examina a obra dos artistas-cronistas viajantes e as relações entre artes plásticas e ciências naturais, num continente que não pára de ser descoberto.
No conjunto, a produção mexicana parece privilegiada em termos de análises e número de reproduções -já em 1785 esse país era sede de uma "academia real" de arte.
Os brasileiros ganham bom espaço no capítulo "O Modernismo e a Busca de Raízes", que destaca também os uruguaios Pedro Figari, Rafael Barradas e Joaquín Torres-García, entre outros. O movimento argentino Arte Madí, de arte "concreto-inventiva", que surgiu em 1944, ganhou todo um capítulo em separado.
Entre os capítulos "mexicanos", Ades apresenta as paisagens naturalistas de José Maria Velasco (1840-1912). Na obra do pintor, a imensidão das planícies mexicanas quase intocadas aparece destituída de atitudes relacionadas ao pitoresco ou ao Romantismo. Sem dúvida um mestre da grandiosidade da paisagem americana, pouco conhecido no Brasil.
Outro nome mexicano praticamente ignorado entre nós é focalizado no capítulo seguinte, "Posada (José Guadalupe) e a Tradição Gráfica Popular", que a autora credita como uma das grandes influências do movimento muralista mexicano dos anos 20 aos 40, que teve como mestres Orozco, Siqueiros e Rivera.
O capítulo "Universos Particulares e Mitos Manifestos" traz um estudo preciso sobre as ligações da obra de Frida Kahlo com o movimento surrealista.
No mesmo capítulo são destacados ainda o fotógrafo mexicano Manuel Alvarez Bravo, a pintura surrealista de Remedios Varo (espanhola radicada no México) e a obra do cubano Wilfredo Lam, entre vários outros.
Ao final do volume foram incluídas breves biografias dos artistas latino-americanos citados e os mais importantes manifestos estéticos surgidos no período analisado. Entre eles os seguintes libelos brasileiros: "Manifesto da Poesia Pau-Brasil" (24) e "Manifesto Neoconcreto" (59).

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