São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Cyro Pereira mostra versatilidade no Masp

CARLOS BOZZO JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

A versatilidade do maestro, compositor, orquestrador, regente e professor Cyro Pereira pode ser conferida no CD "Cyro Pereira 50 anos de Música", da gravadora Paul Brasil, gravado em São Paulo e mixado em Oslo, Noruega, e hoje, ao vivo, no auditório do Masp (Museu de Arte de São Paulo), em São Paulo.
O disco é o primeiro da Orquestra Jazz Sinfônica, que é regida pelo maestro há sete anos. Das nove faixas que compõe o CD, três são de autoria de Pereira.
Pereira, quando adolescente, teve de optar, na escola em que estudou, por uma matéria profissionalizante. Entre marcenaria, tipografia, alfaiataria, mecânica e música, ele se decidiu pela arte dos sons, estudando piano.
Aos 21 anos de idade, em 1950, saiu de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, para morar e trabalhar em São Paulo.
Trabalhou na extinta boate Excelsior, uma casa de primeira linha que apresentava grandes shows, em cima do cine Ipiranga. Meses depois, foi contratado pela rádio Record para tocar piano e escrever arranjos.
Veio a TV, e nela Cyro teve sua participação como diretor de orquestra em festivais da Record e do programa "Fino da Bossa", entre outros.
Durante 20 anos, trabalhou na mesma sala que Gabriel Migliori: "Devo tudo que aprendi e sei ao maestro Migliori, no tempo da Record", disse Pereira em entrevista à Folha, na última segunda-feira, por telefone.
Há sete anos ao lado do maestro Nelson Ayres, junto a 85 integrantes da Orquestra Jazz Sinfônica, Cyro dá tratamento sinfônico à música popular, seja ela qual for.
Leia a seguir trechos da entrevista do maestro.
*
Folha - O que o sr. vai apresentar no show de hoje?
Cyro Pereira - Basicamente, o repertório do disco.
Folha - A que o senhor atribui sua versatilidade?
Pereira - O rádio foi uma grande escola para mim. A gente teve de fazer de tudo no rádio durante anos. Acho que acabei aprendendo.
Aliás, na capa desse disco, está escrito que são 50 anos de música, e eu acho que algum inimigo dirá: "E ele não aprendeu ainda?"
Folha - Sua composição "Rapsódia Latina" foi composta em 1975 e só teve a primeira audição em 1984. Por que tanto tempo?
Pereira - Porque ela ficou jogada na gaveta. Sabe aquelas coisas que a gente faz e deixa prá lá? No fundo, é aquela característica de músico relaxado (rindo). Mas, como sou amigo do maestro Benito (Juarez), ele a pegou e executou, nove anos depois de pronta.
Folha - Quanto tempo levou para ser escrita essa música, que tem 19 minutos e 24 segundos?
Pereira - Seguramente, uns quatro ou cinco meses.
Folha - Como o sr. definiria o ato de compor?
Cyro Pereira - É um impulso interno de fazer algo. É como pegar um novelo de lã e achar a ponta. Se você achar essa ponta, vem tudo direitinho, é só desmanchar. Às vezes, rompe-se a linha, e temos que parar para podermos começar tudo de novo.
Folha - E arranjar?
Pereira - É como vestir uma pessoa. Fazer uma roupa mais bonita, mais elaborada e mais adequada à ela.
Folha - E reger?
Pereira - É uma coisa completamente diferente de tudo, principalmente quando as músicas são suas. Fico muito feliz nesse momento...
Às vezes, dura cinco ou dez minutos, mas é muito legal. Acho que é igual a uma mulher tendo um filho, às vezes se sofre, mas é um momento único de prazer.
Folha - Como distinguir uma boa e uma má composição?
Pereira - Ninguém faz uma má composição. O que ocorre é que o resultado da composição, às vezes, não é alacançado pelo compositor. Ninguém perde tempo fazendo uma coisa ruim.
Folha - Nestes anos todos, qual o arranjo de sua autoria que mais o emocionou?
Pereira - Foi o de um disco da Elizeth Cardoso chamado "Momentos de Amor", que gravei com o também maestro Luiz Chaves. Sem cabotinismo, gostei muito do que fiz.
Folha - Qual é o melhor conselho para quem quer orquestrar?
Pereira - Fazer calos nos dedos de tanto escrever. E estudar muito.
Folha - Nestes anos, a qualidade do músico brasileiro melhorou?
Pereira - Melhorou muito, devido à quantidade de materiais a que hoje eles podem ter acesso. Muitos foram para fora e retornaram com um "background" invejável.

Disco: Cyro Pereira 50 anos de Música
Artistas: Cyro Pereira e Orquestra Jazz Sinfônica
Lançamento: Gravadora Pau Brasil
Quando: show hoje, às 20h30
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel 251-5644)
Quanto: R$ 18 em média (o disco); R$ 5 (o show)

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