São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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'Cadernos' expõe Nijinski

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quase 90 anos depois de iniciar sua legendária trajetória, Vaslav Nijinski continua despertando a atenção.
No início do próximo ano, quando a editora Francisco Alves lançar o livro "Cadernos", os leitores brasileiros terão acesso à versão completa dos famosos diários de Nijinski, que durante mais de meio século foram publicados parcialmente.
Censurados por Romola de Pulszky, que se casou com Nijinski em 1913 em Buenos Aires, os textos escritos pelo bailarino pouco antes de ser internado pela primeira vez num sanatório para doentes mentais tiveram mais de 30 mil palavras (ou seja, um terço do original) suprimidas das sucessivas edições, iniciadas em 1936.
Passagens eróticas
Publicado no Brasil em 1985, sob o título "O Diário de Nijinsky", essa versão expurgada, conforme decisão de Romola, eliminou todos os poemas.
Como a maior parte do texto integral, foram escritos em russo, idioma estranho à esposa do bailarino, nascida na Hungria.
Originalmente reunidos em 14 cadernos escolares, os "diários" que circularam pelo mundo até 1995, quando foi publicada na França a edição que está chegando ao Brasil, também suprimiam as passagens eróticas, além de mostrar versões atenuadas das repetições obsessivas mantidas por Nijinski em muitos trechos.
Em seu vertiginoso relato, Nijinski alterna alucinação a uma lucidez perturbadora. Com a mesma falta de limites que lhe permitiu criar obras geniais como "Prelúdio à Tarde de um Fauno" e "Sagração da Primavera", precursoras da dança moderna, ele registrou em textos as suas contradições.
Imerso em seu labirinto mental, escreveu: "Deus é um pênis que multiplica seus filhos com uma única mulher. Eu também multiplico meus filhos com uma única mulher... Eu sou Deus... Eu sou carne. A carne descende de Deus... Pensam que sou louco, pensam que vou perder a cabeça. Nietzsche perdeu a cabeça porque pensava. Eu não penso, por isto não perdi a cabeça".

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