São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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20% dos trabalhadores não sabem quem é o presidente

ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO

Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) feita em 1996 mostra que, entre 22,5 milhões de trabalhadores acima de 18 anos, 20% (ou 4,5 milhões de pessoas) não sabiam o nome do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
A mesma proporção de entrevistados ignora o nome do prefeito de sua cidade. O desconhecimento aumenta em relação aos governadores, estranhos para 30% dos entrevistados. "Fica a impressão de que as pessoas se ligam mais nos fatos locais e nos nacionais", disse o presidente do IBGE, Simon Schwartzman.
O desinteresse político se reflete ainda no índice de filiação partidária apurado pela pesquisa: apenas 3%. De cada dez pessoas, apenas uma teve contato direto com algum político. Em números, 1,8 milhão de pessoas fizeram pedidos, reivindicações, sugestões ou reclamações.
Organizações
Outro reflexo da baixa participação social dos brasileiros é a proporção de entrevistados que se disseram associados a alguma organização (sindicatos, associações ou órgãos de classe): 30%. Trata-se da mesma participação detectada pelo IBGE em 1988, na última investigação sobre o tema.
Para 62% das pessoas entrevistadas, nenhuma instituição defende seus direitos.
Esses dados são de abril de 96 e constam do suplemento da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) sobre "Associativismo, Educação e Trabalho", divulgado ontem.
O IBGE abordou trabalhadores das seis principais regiões metropolitanas do Brasil (São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e Rio de Janeiro), que concentram 25% da população do país.
O presidente do IBGE informou que a pesquisa só foi liberada agora por não ser um período eleitoral. "A população brasileira não tem uma participação muito ativa. Uma coisa é votar, outra é fazer campanha, cobrar. Verificamos isso", afirmou.
Porto Alegre se diferencia do resto do país, diz o IBGE. Associações comunitárias empatam com os sindicatos em número de participantes. Lá, a taxa de participação em sindicatos supera até a de São Paulo, tradicional berço sindical.
"O único partido identificado com clareza é o PT", informou Schwartzman. O partido é apontado por 48% dos entrevistados que informaram ter alguma preferência política (20% do total). Os outros 52% se dividem entre PMDB, PDT, PFL e PSDB.
"O PT é o partido de base operária, mas no país predominam os partidos de líderes, dos que aparecem na TV e mobilizam a opinião pública", disse o presidente do instituto.
Para Schwartzman, o PDT não conseguiu reproduzir a representatividade operária do antigo PTB. "O PDT hoje está muito ligado ao carisma do Brizola."
Isso não significa, segundo ele, que o PT seja majoritário. "Para 58% dos entrevistados, a referência para o voto é o candidato, não o partido."
A pesquisa concluiu que, quanto mais anos de estudo, mais ativo é o cidadão. E mais: a adesão às greves também é maior entre as pessoas mais instruídas.
Televisão é o meio preferido por 80% dos entrevistados para se informar sobre os acontecimentos políticos. "A TV dá a ilusão de contato com o político, mas não é tão absoluta. Cerca de 30% dos entrevistados usaram outros meios que não a TV", informou.

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