São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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FHC diz não ter medo de "máfias"

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que não tem medo "de máfias" nem "de clientelismo" e que não depende de parlamentares que defendem "interesses escusos na utilização de recursos" públicos. Disse ainda que recebe apoio político justamente por não ter esse perfil.
FHC afirmou que "quem tiver de ser demitido vai ser demitido", caso fique provado que fez má utilização de dinheiro público. Questionado em seguida se a afirmação caberia para o caso do DNER, ele respondeu: "Cabe".
Há uma semana, foi revelado um esquema envolvendo diretores do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) em supostas contratações irregulares de empreiteiras e uso de jatinhos e helicópteros dessas empresas para vistorias de obras públicas.
Desde então, o PMDB -responsável pela maior parte das indicações no órgão- tem feito pressão para evitar a queda de diretores. O diretor-geral do DNER, Maurício Borges, é protegido do deputado Newton Cardoso (PMDB-MG).
Segundo o presidente, as demissões que forem necessárias serão feitas "sem perseguição". "Desde que seja pelo bem público, desde que seja para ser substituído por alguém que responda melhor, e não simplesmente para atender a vontades políticas aqui ou ali."
As afirmações do presidente foram feitas durante o lançamento do novo sistema de pagamento aos hospitais, o PAB (Programa de Atenção Básica), que troca o repasse de verbas por atendimento realizado pelo repasse per capita.
Segundo FHC, a mudança na saúde faz parte de uma reestruturação do governo, que envolve o combate à fraude e ao desperdício.
"Que ninguém se iluda que (a reestruturação) vai avançar mais", afirmou o presidente. Segundo ele, os recursos são escassos e têm de ser bem aplicados.
O presidente também buscou amenizar as críticas à classe política. Segundo ele, "as questões estão mudando (...), e cada vez mais os políticos se preocupam com as políticas (...) e não com o cargo, não com quem vai estar exercendo o cargo, mas com o que o político está fazendo ao exercer o cargo".
FHC disse que a reforma do Estado vai além de "aprovar uma lei sobre funcionários públicos" e passa por uma nova vontade política, "que não pode ser a vontade política antiga, clientelista, burocrática e permeada de interesses que nem sempre são os melhores".
O presidente afirmou que o novo modelo de repasse de dinheiro para a saúde, assim como está sendo feito com a área da educação, mostra que o clientelismo e a necessidade de o parlamentar ter de interferir para liberar verbas federais vão "diminuir progressivamente até se extinguir".

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