São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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LIZ TAYLOR

DO "EL PAÍS SEMANAL"

Elizabeth Taylor: 65 anos. Sete maridos. Dois Oscar, álcool e diamantes. A última estrela de Hollywood tem uma biografia mais interessante do que o melhor roteiro de cinema.
Atualmente, recuperada de uma cirurgia feita em fevereiro para a retirada de um tumor cerebral, não quer mais saber dos homens e confessa que sua única paixão é lutar contra a Aids.
Nesta entrevista, em sua casa em Bel Air, em Los Angeles, Liz -como é mais conhecida- está com o cabelo surpreendente branco e curto, uma das lembranças da operação.
Não quer falar de muitos assuntos. Mas isso não significa que a estrela é uma figura carrancuda. A conversa é pontuada pelo som da sua risada característica -forte e sonora.
Leia abaixo trechos dessa entrevista, em que um dos maiores mitos da história do cinema fala sobre Aids, casamento, James Dean e Bill Clinton.
*
Pergunta - Como se sentiu quando acordou da sua última operação e percebeu que estava totalmente careca?
Elizabeth Taylor - Quando recobrei os sentidos e me olhei pela primeira vez no espelho, fiquei muito surpresa. Perguntei: "Minha cabeça é totalmente plana na parte posterior?" Todos me disseram que minha cabeça tinha um formato muito bonito, mas eu insisti: "Vocês têm certeza de que não é uma almofada?"
Pergunta - Uma das razões de você ter contribuído tanto na luta contra a Aids foi a autoridade conferida pelas muitas doenças que já sofreu. Como você se sente neste momento, após esses problemas?
Liz Taylor - Muito bem. Não posso sair à noite, mas isso não importa. Gosto de ficar nos lençóis. Tenho uma coleção de lençóis maravilhosos, e meu quarto é lindo. Decidi que, já que estava doente, meu quarto seria agradável.
Quando me disseram que tinha um tumor cerebral de seis centímetros, exclamei: "Lá vou eu de novo!"
O tumor foi descoberto -e dou graças a Deus por isso, porque os caminhos do Senhor são inescrutáveis- por um ataque que sofri. Meu Deus, se eu contasse todas as minhas cicatrizes!
Pergunta - Físicas e psíquicas?
Liz Taylor - Todas!
Pergunta - De onde vem seu impulso de ajudar as pessoas?
Liz Taylor - Estou cheia de ser Elizabeth Taylor. Acredito que se uma pessoa que nasce com privilégios deve compartilhá-los.
Acontece o mesmo com o dinheiro, também é necessário compartilhá-lo.
Conheci pessoas que só se dedicaram a fazer uma fortuna, e eram muito infelizes. Eram uns filhos da puta miseráveis.
Sempre acreditei que dividir as coisas com os outros era uma das razões de estarmos na Terra. Essa é uma crença que sempre dirigiu meus atos, desde que tive idade suficiente para tomar minhas próprias decisões.
Pergunta - Tem medo da morte?
Liz Taylor - Não. Tenho medo da dor.
Pergunta - Pensa em se casar novamente? Ou é uma dessas pessoas que nunca falam "jamais" para nada?
Liz Taylor - Neste momento, estou dizendo nunca. Nunca, jamais! Não entendo a razão para que alguém do mesmo sexo, ou do sexo oposto, neste momento e nesta época, precise se casar.
Eu era um pouco à moda antiga, sempre achei que precisava me casar. Mas essa mentalidade é parte do passado, não tenho por que fazer isso novamente.
Pergunta - Mas você pode morar com um homem.
Liz Taylor - Antes preciso encontrá-lo...
Pergunta - Já pensou em escrever um livro?
Liz Taylor - Não, porque teria de renunciar ao presente para voltar ao passado. E assim não é possível prever o amanhã.
A minha vida já teve tantos amanhãs surpreendentes que não posso acreditar que tenham terminado. Não acredito que meu livro esteja no fim. Acho que estou na metade. Não quero viver no passado, quero viver no presente!
Pergunta - Acha que voltará a atuar?
Liz Taylor - Não sei. Pode ser, acabo de ler um roteiro muito interessante.
Pergunta - Muito mais controvertida que sua defesa dos programas de distribuição de seringas descartáveis é sua grande amizade com Michael Jackson. Até aceitou ser madrinha do filho dele...
Pergunta - Gostamos muito um do outro, só isso. Nós dois tivemos uma infância estranha e temos muito em comum. Temos carinho um pelo outro. E, se as pessoas não entendem isso -ou não gostam disso-, problema delas.
Pergunta - Gostaria de lhe fazer perguntas sobre as pessoas com as que trabalhou. Vamos começar por Tennessee Williams.
Liz Taylor - Tinha adoração por ele. Era um dos meus melhores amigos. Era totalmente ingênuo e não tinha nenhum tino para os negócios. Quando percebi, tratei de ser sua agente.
Ele achava que fazia um excelente negócio, porque recebia 5% dos lucros. Eu disse: "Nada disso, a porcentagem deve ser sobre o total bruto!"
Perguntei: "Já ganhou dinheiro com algum dos seus filmes?" E ele respondeu: "Na verdade, não". Então, eu falei: "Está vendo como eu tenho razão?" Por isso o ajudei, gostava muito dele.
Pergunta - E Montgomery Clift? Há quem diga que estava apaixonada por ele.
Liz Taylor - Sim, estava. Mas, durante a filmagem de "Um lugar ao Sol", fiquei sabendo que era homossexual, provavelmente muito mais do que ele achava.
Eu o ajudei a assumir sua escolha, e isso é algo extraordinário, porque eu só tinha 16 anos e não entendia muito dessas coisas.
Fiz 17 anos durante essa filmagem. Nem sabia muito bem o que era ser homossexual. Na verdade, não sei muito o bem o que sabia.
Pergunta - E James Dean?
Liz Taylor - Eu amava o Jimmy. Conversávamos durante horas.
Pergunta - Houve debates sobre se ele era homossexual ou não. O que você acha?
Liz Taylor - Nem ele mesmo sabia. Era muito jovem, tinha apenas 24 anos quando morreu. Mas era fascinado pelas mulheres, vivia flertando. Ele e eu soltávamos faíscas quando estávamos juntos.
Pergunta - Qual é sua opinião sobre o presidente Bill Clinton?
Liz Taylor - Estou decepcionada com a atuação dele na presidência dos Estados Unidos. Clinton teve a oportunidade de colaborar, como tinha prometido no início, mas não o fez. No final das contas, eram apenas palavras vazias.

Tradução Maria Carbajal.

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