São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Vírus capaz de matar sobrevoa São Paulo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equipe de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz isolou dois tipos de arbovírus em passarinhos capturados no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo. É a primeira vez no país que esse tipo de vírus é isolado em aves.
Pelo menos um desses arbovírus, o Ilhéus, pode provocar doenças em humanos. Se um mosquito picar uma ave portadora e em seguida picar uma pessoa, ela poderá manifestar desde um pequeno quadro febril até febres hemorrágicas que podem ser fatais.
O Parque Ecológico do Tietê, onde as aves foram capturadas, fica próximo ao Aeroporto Internacional de Cumbica e é cercado por uma densa malha urbana. Cerca de 70 pessoas trabalham na área que é aberta ao público e serve como abrigo temporário para animais apreendidos pela Polícia Florestal.
Os vírus isolados no parque estão entre os 537 arbovírus conhecidos no mundo. Cerca de 120 deles são capazes de infectar e provocar doenças em humanos. Um desses vírus, o Rocio, foi responsável pela epidemia de encefalite que nos anos 70 infectou 1.500 pessoas e matou 150, no Vale do Ribeira.
O outro arbovírus isolado no Parque do Tietê ainda não foi inteiramente classificado. "Ainda não podemos dizer se provoca doença no homem", diz Akemi Suzuki, pesquisadora da equipe.
Os arbovírus circulam entre os vertebrados silvestres e são transmitidos de um animal a outro por meio da picada de artrópodes, uma vasta família que inclui hematófagos como os mosquitos e os carrapatos. Semelhantes aos arenavírus e aos hantavírus, os arbovírus estão confinados ao meio silvestre. "O problema aparece quando o vírus consegue se adaptar a regiões urbanas", diz a pesquisadora Esther Bocato, coordenadora da pesquisa no Adolfo Lutz. Essa "urbanização" já aconteceu com o vírus da febre amarela, no início do século, e mais recentemente com o da dengue. Os dois são arbovírus.
O "ataque" dos vírus silvestres costuma acontecer quando o homem provoca alterações importantes no meio ambiente, como desmatamento ou mudanças na agricultura.
"Quando o homem invade o meio silvestre, ele entra no ciclo de transmissão e pode ser contaminado", diz Délsio Natal, que participa da pesquisa pela Faculdade de Saúde Pública da USP.
A importância da descoberta do arbovírus tem mais um caráter epidemiológico, explica Luiz Eloy Pereira, que coordena o trabalho de campo do Adolfo Lutz. Como não há vacina para esse tipo de vírus, a informação deve servir de alerta para os órgãos de saúde. Os médicos dos postos e hospitais da região -por exemplo- deverão saber sobre os sintomas de doenças causadas pelo vírus e alertar as autoridades.

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