São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997 |
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Retrato falado chega a vítima via Internet
RODRIGO VERGARA
Pela primeira vez, um retrato falado foi apresentado à vítima por meio da rede mundial de computadores. Após examiná-lo, a jovem C., assaltada por dois homens depois de uma batida de trânsito, enviou um e-mail ao autor do desenho recomendando alterações. A imagem avançada que esse episódio possa conferir à polícia, no entanto, também é virtual. Os recursos humanos e materiais que viabilizaram esse avanço não pertencem à Polícia Civil. O desenho do assaltante foi feito em um equipamento pertencente a Sidney Barbosa, 27, um dos três únicos especialistas em reconstituição facial do Estado de São Paulo, que presta serviços à Delegacia Seccional Sul. O técnico emprestou ainda seu próprio site na Internet para apresentar o retrato falado. O desenho ficou um dia à disposição da vítima. "Ligamos para ela e avisamos que o retrato estava no meu site." O "passe" de Barbosa também não pertence à polícia. Ele não é policial, mas sim contratado pela delegacia para trabalhar seis horas por dia. No currículo, Barbosa tem cursos de artes plásticas, de anatomia da fisionomia facial e de computação avançada, entre outros. Depois de dez anos elaborando retratos falados, Barbosa está começando a mudar o rumo de sua carreira. Em parceria com dois engenheiros do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e com uma empresa de computação gráfica dos EUA, ele está desenvolvendo um software para reconstituição facial, com tipos humanos brasileiros. Hoje, o programa de que dispõe é importado e demanda muitos retoques. "Não tem nenhum tipo de cabeça chata, o que é comum no Brasil. Olhos, orelhas, boca, tudo é muito diferente." Transparências Problema semelhante vive a investigadora Wânia Passos Anastácio, que há quatro anos faz retratos falados para o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Em vez de um computador, Wânia dispõe de um kit de cartelas em plástico transparente com partes do rosto -vários tipos de testa, de cabelo, de bigode, de nariz etc. O kit, adquirido pela polícia em 1976, foi fabricado nos EUA em 1960. "Quando eu monto um rosto com as características fornecidas, já até sei o que a testemunha ou vítima vai dizer: a testa é sempre mais baixa e as orelhas, menores." O rosto montado no kit serve de base para o desenho final, feito a lápis, em que ela acrescenta os detalhes dados pela testemunha ou vítima. A idade e a aparente precariedade do material com que trabalha parecem não intimidar a investigadora. "O kit é antigo, mas ainda funciona. Mas é claro que um computador facilitaria o trabalho", diz. O terceiro e último profissional do ramo, Yoshiharu Kawasaki, 33, não tem qualquer equipamento, a não ser papel e lápis, para ajudá-lo a montar um rosto desconhecido. Investigador de polícia e desenhista de retratos falados há 5 anos no Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais), Kawasaki diz ter entrado para a carreira por curiosidade. "Não tenho nenhum curso de especialização. Tinha muita curiosidade, e ia no IML ver dissecação de cadáveres para aprender sobre anatomia, principalmente facial." Texto Anterior: Estudo atingiu 1.800 animais Próximo Texto: Desenhista é psicólogo Índice |
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