São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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"Sabia de tudo, mas não me importei"

DA FOLHA CAMPINAS

Viver em uma casa onde um corpo foi enterrado sob o piso de um dos quartos não representa nenhum problema para o analista de produção Edson Lourenço, 35.
Ele mora com a mulher e o filho na casa onde o economista Tito Augusto Alves de Araújo foi morto, em fevereiro de 93, em Campinas. O corpo foi queimado, esquartejado e enterrado sob o piso do quarto dos fundos do imóvel.
Ainda hoje a casa conserva as marcas, no cimento do quarto, dos buracos que foram abertos para enterrar e desenterrar os pedaços do corpo da vítima.
"Já sabia do crime antes de morar aqui", diz. Apesar disso, Lourenço, mostrando o quarto da casa onde a vítima foi enterrada, afirma não se importar de morar no imóvel, uma casa de classe média, em um bairro popular de Campinas.
Lourenço até comprou o imóvel, em abril, com financiamento da Caixa Econômica Federal.
"Vou pagar R$ 32 mil em 20 anos. Sabia de tudo, mas não me importei. Dei preferência para a casa. Já morávamos aqui perto. O terreno e a localização são bons."
Lourenço afirma não ter medo de viver ali com a sua família, mas reconhece que o imóvel ficou marcado depois de ter sido cenário de um crime violento.
"Marcado vai ficar para sempre, mas é um bom lugar. Tenho certeza de que, se tiver de vender, não terei problemas."
Os vizinhos, no bairro Miguel Vicente Cury, afirmam que o imóvel ficou vazio por pouco tempo depois do crime.
A dona-de-casa Cláudia Regina Verdeiro, 29, que mora ao lado da casa, diz que os antigos moradores também sabiam do fato, mas também não se importaram.
"Não tinha como esconder, a vizinhança toda sabia e comentava, mas o pessoal que mudava para cá nunca pareceu ligar."
Segundo Cláudia, cerca de uma semana depois da tragédia, a casa já tinha sido alugada.
Para o atual morador, o lugar é tranquilo e sossegado. Sua mulher, a auxiliar de farmácia Claudete Lourenço, 31, diz não ter receio de morar na casa. A família reforma o imóvel e pretende continuar morando no local. "Temos de ter medo dos vivos. Os mortos já foram", diz Lourenço.
Segundo a polícia, a oficial de Justiça Maria Elizabeth de Campos Macedo teria matado o economista Tito Augusto Alves de Araújo porque ele estaria querendo terminar o relacionamento com ela.

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