São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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O lugar do escritor

EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA

A Folha visitou o escritório de 22 escritores brasileiros em sete cidades e colheu de cada um deles depoimentos e reflexões sobre seus locais de trabalho e seu processo criativo.
As fotografias publicadas nesta edição mostram como esses escritores organizam o lugar onde eles passam, senão a maior parte de suas vidas, ao menos alguns de seus momentos mais intensos, e o fazem invariavelmente sozinhos, ou, no limite, dialogando com personagens, tramas e palavras.
São territórios de muitas palavras, de embates ferozes, mas dos quais o fotógrafo só pode registrar a pacífica e silenciosa rotina das coisas. "É o santuário da gente", diz Rachel de Queiroz, a única fotografada a não permitir que o Mais! entrasse em seu escritório.
Os gabinetes ora são pequenos, ora espaçosos, às vezes soturnos, outras vezes arejados. Podem ser bibliotecas muito organizadas, como a de Carlos Heitor Cony, ou um amontoado de livros espalhados por todo canto, como no gabinete de João Ubaldo Ribeiro.
À mesa de trabalho, em busca da frase exata, escreve-se à mão como Nélida Piñon, com o lápis, como Campos de Carvalho, na velha máquina de escrever ou no computador. Esse último, aliás, já está perfeitamente acomodado na maioria das mesas dos escritores visitados, como na de José J. Veiga, que, aos 82 anos, ressalta a facilidade com que o aparelho lhe permite editar os textos.
Para alguns o processo criativo é puro prazer, deleite e fruição. Para outros é dor, depressão, trauma, como afirma Marilene Felinto. Para a maioria dos escritores, esses dois estados de ânimo frequentemente oscilam.
O escritório do escritor é, na verdade, o lugar onde ele não está. É apenas o ponto de onde ele enfrenta os próprios limites geográficos, a fim de alcançar um outro espaço, o da própria narrativa. Na arquitetura doméstica do escritório, oculta-se toda uma série de mundos ilimitados.

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