São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Pesquisa aponta conhecimento básico ruim

Analfabetos virtuais são 25% no 1º Mundo

LUCAS DELATTRE
DO "LE MONDE"

Compreender um texto curto, como uma bula de remédio. Saber tirar algumas informações de um quadro de previsão meteorológica. Comparar os preços de diferentes produtos ou os dados contidos em gráficos. Calcular a distância de um trajeto, acrescentando alguns dados quilométricos. Essas são alguns dos testes simples aos quais 450 mil pessoas do mundo inteiro, e especialmente da Europa, aceitaram submeter-se, numa iniciativa patrocinada pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
Trata-se de uma amostra representativa da população adulta (de 16 a 65 anos) de 12 países desenvolvidos, entre os quais os EUA, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Canadá, Irlanda e Suécia. Os resultados do teste não foram brilhantes.
"Pelo menos um quarto da população adulta dos países estudados não atinge o nível mínimo de competência necessária para satisfazer demandas complexas da vida cotidiana e do trabalho", concluem os autores do estudo, que está para ser divulgado. Ou seja, a capacidade de ler e escrever está longe de um nível desejável. Há um analfabetismo virtual.
Incapazes de decifrar e usar sinais e símbolos indispensáveis para situar-se em seu ambiente, milhões de adultos desses países navegam na fronteira do analfabetismo. O fenômeno atinge particularmente mulheres e imigrantes.
As pesquisas sobre nível de alfabetização normalmente não refletem o analfabetismo propriamente dito, devido à variedade dos parâmetros aplicados e da abrangência do estudo. De fato, esse estudo mediu o nível de "competência de base" dos adultos, e não um nível qualquer de conhecimento escolar, forçosamente duvidoso.
França fica fora
Em 1995, quando a OCDE promoveu sua primeira pesquisa sobre o assunto, a França pediu que os resultados relativos ao país não fossem divulgados. Em 1997, pela segunda vez, a França preferiu não tomar parte no teste, alegando discordar da metodologia utilizada.
Para a delegação francesa na OCDE, a metodologia é "anglo-saxã demais. Um politécnico correria o risco de tirar nota zero numa pergunta sobre o número de ovos necessários para fazer um bolo".
Sejam quais forem os motivos, a ausência da França dá margem a desconfianças. Elas provavelmente são infundadas, já que os resultados dos outros países desenvolvidos não são muito melhores.
O estudo de 1997 destaca que Suécia, Holanda e Alemanha tiveram resultados menos medíocres que os outros países.
Sabe-se que aproximadamente 10% dos franceses apresentam grandes dificuldades de leitura. No total, há 3,3 milhões de pessoas com dificuldade de leitura no país.
Mas os resultados de outros países europeus são semelhantes. Na Alemanha, fala-se em 3 milhões de pessoas, quando o analfabetismo é qualificado como "a incapacidade de ler e escrever, compreendendo o que se escreve, uma redação simples e breve sobre fatos relacionados à vida cotidiana da pessoa" (segundo definição da Unesco).
No Reino Unido, a situação seria ainda mais grave. Dados do governo britânico, divulgados em setembro, indicam que mais de um em cada cinco adultos apresentam baixo nível de alfabetização.
O Reino Unido, que, ao lado dos EUA, foi um dos primeiros países a tomar consciência do problema, tem um dos piores resultados.
Apenas a Suécia se saiu bem, graças a uma longa tradição de círculos de leitura para adultos, lançados três séculos atrás pela Igreja Luterana para ajudar seus fiéis a resistir ao avanço católico.
Seja qual for a situação de cada país, a melhora do nível básico de conhecimento se tornou um fator fundamental na época da globalização e da informatização. Para a OCDE, vai cair o número de empregos pouco qualificados.

Tradução de Clara Allain

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