São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Oriente Médio atravessa perigosa encruzilhada

AMR MOUSSA

A paz é um esforço muito nobre, que precisa de pessoas nobres trabalhando por ele. É um objetivo importante demais para deixar escapar, tolerando políticas ou atitudes que ameaçam o processo de paz ou permitindo que forças negativas em todos os lados assumam as iniciativas.
Nós, no Egito, estamos muito comprometidos e determinados em relação ao processo de paz. Nós o iniciamos. O tratado de paz egípcio-israelense traz a fórmula perfeita, que implementa honesta e completamente o princípio de terra por paz. Será a única fórmula bem-sucedida.
Quando falamos de paz, falamos de justiça, de segurança, de retirada, de relações normais, de respeito ao direito dos povos, de respeito aos compromissos dos governos.
Quando falamos de paz, falamos do estadista visionário que enxerga além das nuvens do dia, tenta dissipá-las e conduz as pessoas pelo caminho correto, para um futuro de coexistência, cooperação, abertura e transparência, de relações estáveis e fronteiras abertas, de reconhecimento mútuo, de benefícios mútuos.
O Oriente Médio está hoje numa perigosa encruzilhada. A credibilidade de uma acomodação pacífica nunca foi tão questionada como agora. Nunca, desde os acordos de Camp David (entre Egito e Israel, em 79) ou a conferência de Madri (entre árabes e israelenses, em 91), a busca da paz viu crise tão grande.
Nunca, desde Madri, quando o princípio de terra por paz foi enfatizado, o processo enfrentou tamanho declínio e falta de credibilidade. Restaurá-lo é um grande desafio e uma grande responsabilidade. E é o governo de Israel que tem a maior fatia de responsabilidade de restaurar a credibilidade, perdida por causa de políticas negativas.
Não é a nossa intenção, nem é necessário, trocar acusações. Mas não podemos esconder os fatos.
Privar o povo palestino de qualquer esperança de um futuro diferente é fechar todas os caminhos para a conciliação e relações pacíficas. Não devemos esquecer que o desespero e a frustração são meio caminho para a violência.
Nós precisamos de um intervalo. Uma interrupção do desespero e da frustração; uma interrupção das políticas negativas e das violações. Nós não precisamos mais de colônias, de ataques terroristas, de punições coletivas ou retiradas insignificantes, nem de mais promessas não cumpridas.
Nós condenamos, da forma mais veemente, qualquer ato terrorista ou violento. Israelenses e palestinos inocentes devem estar imunes ao flagelo de tais atos.
A segurança de um é a segurança do outro. Toda vida humana é sagrada. A insegurança de um palestino, que sente que sua casa pode ser demolida a qualquer momento, é um flagelo que deve igualmente ser impedido.
Que as pessoas se sintam seguras, dos dois lados da atual linha divisória. Não vamos criar um clima negativo e depois culpar o outro lado pelas consequências.
A segurança é crucial para todos nós na região, mas o seu significado não deve se limitar ao combate à violência. O verdadeiro significado é muito mais amplo e profundo do que a segurança pessoal, que pode ser protegida pela polícia ou outras medidas.
Tão vital quanto ela, é compreender que a segurança não é preocupação exclusiva de um Estado ou de uma sociedade. Todos nós estamos envolvidos. A sua base está no estabelecimento de uma paz justa e no lançamento de relações pacíficas. Está relacionada com o controle de armas, convencionais e de destruição em massa.
Outro assunto muito atual é a cooperação econômica. Será ela que cimentará uma paz duradoura e abrangente.
Israel deve rever muitos aspectos de sua participação no processo de paz para salvar esse importante conceito. A paz não acontece de repente, ela deve estar baseada em princípios e diretrizes:
1 - O respeito ao princípio de terra por paz.
2 - Os direitos do povo palestino, incluindo seu direito à autodeterminação.
3 - O direito de todos os países a viver dentro de fronteiras seguras e reconhecidas.
4 - A posse de armas de destruição em massa deve ser revista.
5 - A segurança regional deve ser alcançada com o menor nível de armamento.
6 - A segurança de uma parte deve ser ligada à das outras, não se dar em detrimento das outras.
7 - O terrorismo e a violência, em todas as suas formas, nunca devem ser utilizados.
8 - Políticas provocativas e a força bruta, que alimentam o fogo da frustração e do desespero, devem ser abandonadas.
9 - O império da lei e a legitimidade internacional devem ser sempre respeitados.
10 - O princípio de obrigações e compromissos equilibrados deve ser o fio condutor. E os acordos devem ser respeitados fielmente.
11 - A política de colonização deve ser reconsiderada.
12 - As disputas devem ser resolvidas por meios pacíficos.
Eu lembro o que o presidente Sadat (1918-81) disse: "Chega de guerra." Precisamos dialogar, negociar, mas nós temos de ser honestos. Eu sei que os israelenses não querem manchar a história do povo judeu com o estigma do ocupante que causa a desgraça de outros povos e nações.

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