São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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PROVÃO E FUTURO DO ENSINO

A divulgação dos resultados da segunda rodada do provão demonstra a importância das avaliações, por imperfeitas que sejam. O exame promovido pelo MEC conta pelo menos dois sucessos inegáveis.
Primeiro, os em geral péssimos resultados obtidos pelas instituições privadas estão fazendo com que elas procurem se aperfeiçoar. Em relação a 96 já aumentou em 72% o número de escolas privadas com um corpo docente de nível A ou B. Agora, as particulares estão criando uma fundação para melhorar seu ensino. Quaisquer que sejam seus motivos, parece que donos das particulares estão querendo se livrar da fama de administradores de caça-níqueis.
Em segundo lugar, a resistência ao exame reduziu-se muitíssimo. É hoje marginal. As escolas superiores que se recusaram a fazer as provas em 96, muitas de bom nível, voltaram atrás em 97, talvez por causa do vexame da má colocação no ranking universitário do país. Instaura-se um clima de competição saudável.
Mas os dados do provão ajudam também a ilustrar a dimensão e o perigo de problemas como a crise das universidades federais, por exemplo.
Os professores das federais não têm aumento salarial há três anos. As universidades públicas, federais e estaduais, são responsáveis por 90% dos doutoramentos; formam, pois, quase todos os pesquisadores e os melhores professores, que aliás são contratados também pelas particulares. São raros os bons cursos de pós-graduação no ensino privado.
O provão mostra que 77% das escolas com notas A e B também têm corpo docente A e B (mais de 30% de mestres ou doutores). Isto é, sem boa pós-graduação e sem pesquisa -competência que leva décadas para ser estabelecida- não haverá bom ensino superior, público ou privado. E essa competência tem sido quase privativa das universidades federais e das estaduais paulistas. Se houver fuga de cérebros ou desmonte das condições de trabalho nessas instituições, correm risco o futuro da formação profissional, a ciência e a tecnologia nacionais. É preciso preservar o patrimônio de conhecimento das universidades públicas.

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