São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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O ATAQUE DOS BRINQUEDOS

Centenas de crianças japonesas entraram em convulsão após assistirem aos efeitos especiais de um desenho animado transmitido pela TV. É mais um exemplo das dificuldades criadas pela aplicação de tecnologias cada vez mais sofisticadas a meios da cultura de massa. Ressalte-se que não é novidade o debate sobre os efeitos supostamente nocivos da TV, sobretudo os da exposição prolongada das crianças à sua programação.
O aspecto novo, porém, decorre da utilização de técnicas de animação e de sonorização cada vez mais sofisticadas, cujos efeitos sobre a saúde mental dos espectadores ainda não foram esclarecidos. As crianças estão particularmente expostas aos riscos dessa mídia fantástica, também conhecida como "babá eletrônica".
Aliás, o repertório de novos brinquedos e mídias produzidos com alta tecnologia vem aumentado rapidamente: do "bichinho virtual", que nos EUA levantou intensa polêmica sobre seus efeitos psicológicos e sobre o rendimento escolar, aos jogos eletrônicos portáteis, que geram uma dependência indisfarçável. É também polêmico o acesso indiscriminado das crianças à Internet.
As possibilidades de lazer multiplicam-se. Mas as novas formas de diversão trazem riscos de distúrbios cuja natureza terá de ser avaliada. Alguns fabricantes alertam, em manuais, para o perigo do abuso nos jogos. Quantos pais e mães estarão atentos às advertências?
Além de distúrbios neurológicos e motores, a nova e divertida parafernália radicaliza o isolamento, simula realidades e identidades virtuais e diminui o tempo reservado a formas supostamente mais humanas e naturais de lazer e de socialização.
Freud localizava na infância alguns dos traumas capazes de condicionar toda a história dos indivíduos. As novas tecnologias dão outro alcance às potencialidades humanas. Mas podem eventualmente criar novos traumas de que Freud jamais suspeitaria.

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