São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"eu sei que isso está errado"

"Tudo que a minha filha vê, ela quer. A Karoline vê uma boneca nova e diz: Me dá? Se eu falo que não tenho dinheiro, ela pergunta se eu compro quando receber. Quando teve a febre das Chiquititas, ela queria muito o CD porque todo mundo na escolinha dela tinha um. Muitas das coisas que a gente dá acabam estragando. Ela já tem quatro bicicletas e quer uma nova, sendo que nem usa a última. A Karoline é cara de pau mesmo, diz que a outra está velha. Se a gente diz 'não' ou briga com ela por algum motivo, ela joga os presentes fora, diz que não quer mais. Ela não dá valor para as coisas que tem, que a gente compra com tanto sacrifício. Mas também não dá nada pra ninguém. A Karoline diz que eu tenho obrigação de fazer as coisas para ela porque sou sua mãe. Ela diz que, como sou sua 'única' mãe e ela é minha única filha, tenho a obrigação de dar tudo o que ela quer. Eu sei que isso está errado, mas não tenho o que fazer. O mal é que eu não tenho muito tempo para ficar com ela, quase não a vejo, então, se puder, acabo dando tudo o que ela quer. Não consigo dizer não. Mesmo quando digo não, acabo voltando atrás."

(Sheyla Noray Trúccolo, 30, auxiliar de enfermagem, mãe de Karoline Peroni, 5)

Texto Anterior: diga não ao pequeno consumidor no Natal
Próximo Texto: a angústia das compras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.