São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Assumindo no Natal

ANDRÉ FISCHER

Nesta semana, mais uma vez, pai, mãe, irmãos, papagaio, cachorro e parentes de sempre se reunirão em torno da mesa de Natal. Mais uma vez, muitos vão ter de desempenhar o papel do(a) solteirão(ona), mesmo tendo alguém com quem compartilham algum tipo de relação.
Mais uma vez, a avó vai perguntar sobre a(o) namorada(o), e a saída vai ser a tangente ou uma mentira qualquer para deixar a velha mais tranquila e desinformada a respeito da vida do(a) netinho(a).
Mas, conforme o tempo passa, vai ficando mais ridículo continuar fazendo a linha Peter Pan, e, mais cedo ou mais tarde, essa situação vai forçar um inevitável afastamento de pessoas próximas.
Na maioria dos casos, a desculpa é a falta de estrutura para entender as diferentes possibilidades de expressão sexual, como se as pessoas vivessem em uma bolha de plástico, e ninguém desconfiasse de nada. Muito provavelmente, o problema é de quem insiste em não assumir a própria vida.
Exemplos não faltam e são quase sempre patéticos. Robert Mapplethorpe, cujas fotografias ficaram conhecidas pelo teor explícito de homoerotismo, morreu no auge de uma fama mundial tentando esconder o trabalho de seus pais.
Isso cheira lição de moral? Mas não parece estranho ter de criar uma fantasia sobre sua vida particular ou apostar que todos acreditem que você seja um(a) feliz assexuado(a)?
Que tal apelar para o espírito de compreensão e boa vontade que toma as pessoas no período das festas e sair do armário em grande estilo, ao menos para aquela pessoa mais chegada? Em geral, a reação não é tão negativa, e um sentimento de respeito próprio costuma surgir dessas ocasiões. Boa sorte e Feliz Natal.

e-mail: afischer@uol.com.br

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