São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Ah, o bendito pinheirinho

XICO SÁ

É Natal. Haja tarefa chata para um homem fazer neste período. Não há paz. Não resta mais nenhum minuto de sossego para os homens de boa vontade.
Mas... o que fazer?, como diria um enjoado e velho "comuna". Passa logo, vamos para o sacrifício, como diria o não menos enjoado Tarkovski.
E tudo começa com o pinheirinho. Que nem sempre é um pinheirinho. O diabo parece mais aquele cajueiro gigante da cidade de Natal. Aos seus olhos entediados, o bicho mais parece um baobá de "O Pequeno Príncipe".
Conduzir esse pinheirinho, meu Deus, é um dos momentos mais entediantes da condição masculina. O vaso arrebenta a sua canela, os galhos furam o seu olho...
Seja casado ou solteiro, tradicional ou moderno, bom moço ou um junkie. Vai sobrar um pinheirinho, o mais pesado dos diminutivos da nossa língua portuguesa.
Depois chega a hora de enfeitar a árvore, com pisca-pisca e tudo. As crianças estão impacientes, falta um minuto para começar o Palmeiras X Vasco, Edmundo pega na bola e você lá, cercado pela polícia florestal doméstica, tomando choque na velha fiação elétrica do prédio.
E quando você pensa que tudo passou, quando você acha que o peru já está apitando no forno, chegou a hora dos presentes. Não adianta explicar o redemoinho do crash nas bolsas, mostrar Seul no mapa, dizer que a recessão já bate na sua porta...
Eles acham que você é o Bill Gates. Não tem rodada de negociação, não tem "perhaps", como diria Elza Soares.
Coração mole, a mulher decide comprar presente para todas as pequenas autoridades: o porteiro, o guarda, o amigo secreto.
Aí chegou a hora. A farofa parece ótima, o pinheirinho lá, no seu canto, piscando... Você está vivo e falta muito tempo para o próximo. Na janela, pendurado de cabeça para baixo, o Papai Noel inflável já está murcho, mas parece feliz.

e-mail: xico@uol.com.br

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