São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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Elite da arbitragem promoveu 'faroeste'

PAULO COBOS

PAULO COBOS; RÉGIS ANDAKU
FREE-LANCE PARA A FOLHA E

Juízes beneficiaram os times que atuaram em casa

RÉGIS ANDAKU
A atuação da arbitragem seguiu o ritmo do Brasileiro: suspeita no início, foi seguida por um esboço de recuperação, mas acabou de forma polêmica.
A suspeita: denúncia contra o seu então presidente, Ivens Mendes, de que estaria favorecendo alguns times com armação de resultados de jogos, acabou colocando a atuação dos juízes em evidência.
O esboço de recuperação: acuada, a Confederação Brasileira de Futebol, responsável pela organização do torneio e pela comissão, desfez-se de Mendes e montou outro grupo para escalar os árbitros.
Este foi chefiado por Armando Marques, que, ao contrário de seu antecessor, já atuou como juiz em jogos de futebol.
Uma peneira foi feita com os árbitros, e 120 foram reprovados por deficiência física. Os que restaram foram caracterizados como a "elite da arbitragem".
Com o torneio em disputa, Marques afastou 40 outros árbitros, todos por desempenho deficitário, um também por falsificar um diploma escolar do 2º grau, requisito obrigatório para a profissão.
O paranaense Carlos Magno, por exemplo, com atuação conturbada no jogo em que o Juventude venceu o Vitória por 1 a 0, foi afastado e não voltou mais aos gramados.
Perdeu a chance de aumentar seu ganho em R$ 1.300 por jogo ou 1% da renda bruta quando esta ultrapassa R$ 100 mil.
Em outro jogo, com Santos e Botafogo, o gaúcho Carlos Eugênio Simon anulou corretamente um gol: a bola havia entrado pelo lado de fora da rede.
Foi "auxiliado" nesse caso por Wanderley Luxemburgo, técnico santista, que o alertou.
"É com essa porcaria que você está satisfeito?", indagou Marques, sobre os elogios que se seguiram ao desempenho da comissão e da arbitragem já nas primeiras rodadas do Brasileiro-97.
A polêmica viria na segunda fase da competição: foram tantas reclamações (muitas justas) que pode-se dizer hoje que o melhor momento da arbitragem foi mesmo aquele em que ela era considerada uma "porcaria" por Marques.
Esquemas e armações
Enquanto os elogios iam se tornando críticas, os árbitros continuavam trabalhando e, segundo levantamento feito pela Folha, colaborando com os times que atuavam em casa, com sua torcida.
A grande maioria das partidas apitadas pelos principais árbitros do país, 50%, terminou com vitória caseira. Só outros 20% acabaram com a comemoração dos times visitantes (veja no quadro ao lado como atuaram os juízes).
O número de faltas e cartões -vermelhos e amarelos- quase sempre tendeu em favor das equipes que jogaram em seu estádio.
Elogiados e eleitos pela CBF, os juízes que mais atuavam começaram a ser massacrados em campo.
O ápice foi na semifinal: "Ele não tem colhões para apitar um jogo desses", falou Rodrigo, da Lusa, sobre Carlos Simon no primeiro jogo contra o Vasco.
Até sexta, Simon era cotado para apitar a decisão no Maracanã.
"(Cláudio Vinícius) Cerdeira faz parte de um esquema da CBF para prejudicar o Santos no campeonato", falou, aos berros, o treinador Luxemburgo.
O Sindicato dos Árbitros Profissionais do Rio de Janeiro entrou com ação de indenização contra Luxemburgo. Na Justiça esportiva, ele foi suspenso por 50 dias.
"Existe um esquema do Palmeiras", bradou Emerson Leão enquanto corria para interpelar Wilson de Souza Mendonça depois da derrota do seu Atlético-MG.
"O futebol está ficando igual a um faroeste", comentou Gilberto Coelho, o segundo homem mais poderoso da CBF, sobre as sucessivas invasões de campo.
Até o treinador da seleção, Mario Zagallo, aproveitou a bagunça na arbitragem para ironizar a atitude dos técnicos que o criticam. "Eu nunca cheguei a esse ponto na minha carreira", falou, sobre invadir campos e agredir juízes.
Armando Marques, procurando ontem pela Folha, se recusou a fazer comentários. "Hoje, não."

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