São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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Wei não acredita em democratização pacífica

DO "US TODAY"

Leia a seguir continuação da entrevista cedida pelo dissidente chinês Wei Jingsheng
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Pergunta - O sr. acha que o povo chinês em geral está melhor hoje do que em 1978, quando o sr. era jovem e colocava cartazes no Muro da Democracia?
Wei - As condições de vida melhoraram. Mas o avanço econômico beneficiou muito pouco as pessoas comuns. Uma grande parte ficou com os burocratas e governantes. De acordo com números publicados pela imprensa comunista nos últimos anos, há hoje mais de 1 milhão de milionários na China (1 milhão de yuans chineses seriam pouco mais de US$ 120 mil). A maioria das pessoas comuns ainda é muito pobre. E a situação política piorou.
Por exemplo, em 1978 eu era livre para colar grandes cartazes. E a polícia não me prendia porque a lei me permitia fazê-lo. Agora, eles passaram várias leis que retiraram muitos de nossos direitos. Portanto, os direitos políticos diminuíram desde 1978.
Pergunta - A prosperidade econômica diminuiu o interesse pelas liberdades democráticas?
Wei - Em vez de ser próspera, a China está à beira da desintegração econômica. Assim que operários e camponeses começarem suas lutas no campo econômico, descobrirão que os direitos políticos são importantes. Os conceitos de liberdade, democracia e direitos humanos estão criando raízes na mente do povo chinês.
Pergunta - Como o sr. acha que a democracia acabará prevalecendo na China? Através de uma revolução ou de uma mudança de governo?
Wei - A ditadura de partido único do Partido Comunista deve ser mudada antes de a China poder embarcar no caminho democrático. O que eu mais espero é que as mudanças sejam pacíficas. Mas eu não tenho tanta certeza de que o povo chinês é paciente o suficiente para esperar por uma mudança tão lenta e gradual.
Pergunta - Alguns outros dissidentes o criticaram por ter feito declarações favoráveis a Deng Xiaoping depois de sua morte (em fevereiro). O sr. o perdoou?
Wei - Meus sentimentos em relação a Deng nunca foram pessoais. Eram relacionados ao futuro do país. Em relação aos seus crimes e erros, incluindo o que ele fez na praça Tiananmen e na desaceleração das reformas políticas, eu nunca o perdoarei. Mas, não importa quantas coisas ruins ele tenha feito, devemos reconhecer que ele fez coisas boas.
Pergunta - Quais coisas boas?
Wei - Ele melhorou, ou mudou, o controle absoluto de Mao sobre a economia planejada ao permitir que empresas se estabelecessem.

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