São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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Zagallo faz dança das cadeiras no meio-campo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Gira, roda, põe, tira e o problema continua. Bem que Juninho, ao menos, conferiu um mínimo de equilíbrio pelo lado direito do nosso meio-campo. Isso, depois de Zagallo promover um desfile interminável de canhotos por ali, de Rivaldo a Djalminha, se fixando por um longo período em Leonardo.
Destros mesmo, com características de armador e atacante, como exige o esquema, só o próprio Juninho, que inaugurou a fila de experiências, e Giovanni, que, de titular, caiu nas trevas do esquecimento, depois de jogar apenas meio tempo num desses tantos torneios que disputamos nas últimas temporadas.
Como peru na roda, para usar imagem propícia aos festejos da época, Zagallo partiu do pressuposto errado de que Giovanni era atacante, não meia, pois, no Santos de então, estava eventualmente mais enfiado. Quando lhe disseram que não (e aqui, o Matinas e este que vos enfada com estas mal traçadas tivemos modesta participação, num jantar que sucedeu ao Roda Viva), botou o moço no lugar certo, e, em seguida anunciou: "Giovanni é o meu número 1". Rapidamente, porém, descartou o craque do Barça e agora voltou ao ponto de partida: Giovanni não é meia, é atacante. "Oh, Deus!", diria o dr. Smith, perdido no espaço e no tempo.
Entendo que seja uma idiossincrasia do velho Lobo dos campos, como o foi Ademir da Guia, nos anos 70. Sou até capaz de captar a mensagem: Zagallo não gosta de jogadores clássicos que aparentam lentidão e apatia no meio-de-campo. Gérson, de 70, era lento, dirão os mais atentos. Mas sabia transmitir essa sensação de raça, garra, participação coletiva que tanto encantam nosso treinador.
Eis por que, numa só penada, já tirou de cena dois de uma vez - Giovanni e Raí. Sim, Raí, que poderia vir a ser a terceira alternativa destra para resolver esse problema insolúvel. Já passou da idade crítica dos 30 anos, mas isso não seria empecilho, como não o é nem para Bebeto, nem para Romário.
Na verdade, Raí, que cumpriu longa e gloriosa temporada no Paris Saint Germain, foi sacado do time do tetra mais por instâncias de Zagallo do que por convicção de Parreira, que via em Raí o único jogador do grupo capaz de dar um toque de classe àquele meio-campo tão combativo e combatido.
Mas, aqui, tenho de compartilhar da decisão de Zagallo: Raí, sei lá por que cargas d'água, naufragou sozinho nos EUA. Engana-se quem acha que foi o esquema do jogo da seleção. Não foi. Sua função, dentro do esquema de Parreira, era exatamente a mesma que lhe destinava Telê no São Paulo. Tampouco faltou-lhe estímulo (a não ser que tenha acontecido algo que Raí guarde a sete chaves na sua proverbial introspecção), posto que o treinador deu-lhe, entre outras coisas, a patente de capitão.
Então, ficamos assim: é Juninho ou Juninho, o que não vem a ser nem uma solução, nem uma rima rica. É mais uma saída para o beco em que se meteu Zagallo, ou Zaperu na roda, como queiram.
*
Depois de Zé Maria, Zé Roberto e Rodrigo. Desse jeito, basta a Lusa trocar o verde pelo preto para se transformar na filial do Fla em São Paulo.

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