São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Negócios de Pitta passaram por 'fantasmas'

DA REPORTAGEM LOCAL

Empresas "fantasmas" ou sem envergadura para atuar no mercado financeiro fazem parte da lista de supostos "laranjas" que teriam sido usados por corretoras em negócios que causaram prejuízos de R$ 8,396 milhões aos cofres da Prefeitura de São Paulo.
As operações foram autorizadas pelo então secretário das Finanças e atual prefeito, Celso Pitta, entre o segundo semestre de 94 e 95.
A Folha foi à sede de várias empresas citadas em lista do Banco Central e que foi enviada à CPI dos títulos públicos. A maior parte delas é pequena ou média.
A VNG Assessoria Empresarial, por exemplo, teve prejuízo de R$ 8,4 milhões em operação com a corretora Negocial. Seu proprietário é Vanderley Navarro Garcia. No endereço registrado na Junta Comercial de São Paulo fica a Vick's Recursos Humanos.
O mesmo ocorre com a Itapuã Seleção de Mão-de-Obra Temporária, que é do mesmo dono da VNG e teve prejuízo de R$ 4,9 milhões. Segundo a Junta Comercial, ela está registrada em Embu. Mas funciona em São Paulo.
É comum empresários registrarem firmas em Embu, mas possuírem escritório em São Paulo.
O motivo é o percentual do ISS (Imposto Sobre Serviços), que em Embu é de 1% e em São Paulo, 5%.
Outra empresa citada na lista do Banco Central, a Paraná Recursos Humanos, também não está no endereço registrado na Junta Comercial. No endereço, no centro de São Paulo, funciona a Triunph Recursos Humanos, de propriedade de Fernando Guerra e de sua esposa, Rosângela Sofisto Teodoro.
Segundo vizinhos da empresa, que não quiseram ser identificados, antes da Triunph funcionava na mesma sala a Guarujá Recursos Humanos, que também está incluída na lista das empresas que operaram com a Negocial.
Fantasmas
As empresas são consideradas fantasmas porque os endereços, comerciais e residenciais, fornecidos pela Junta Comercial, não correspondem aos locais onde as empresas deveriam funcionar.
Zeladores e antigos vizinhos também desconheciam a existência das companhias.
Muitas das empresas citadas no relatório do BC ficam próximas à agência do Beron (Banco de Rondônia), que concentrou operações com corretoras apontadas como suspeitas: a Negocial, Split e Invest-Sul (ver reportagem à pág. 1-21).
Outra empresa citada na lista do BC, a Fervaz Comercial e Distribuidora de Materiais Elétricos, que teria tido prejuízo de R$ 12 milhões, funcionou em Pinheiros (zona oeste) até um ano e meio atrás.
José Oscar de Gouveia, porteiro do prédio em que funcionava a empresa, diz a Fervaz "quebrou e desapareceu do dia para a noite, como fumaça".
Já a empresa Portfolio Metais Indústria e Comércio, que tem sede na cidade de Caracaraí, em Roraima, segundo levantamento feito na Junta Comercial, teria tido prejuízo de R$ 4,2 milhões.
O endereço da empresa em São Paulo é a casa de seus dois sócios em Campo Belo (zona sul).
Outra empresa, a Metal Indústria e Comércio é uma pequena metalúrgica na rua Soldado Antônio Aparecido, 31, no Parque Novo Mundo, zona norte da capital.
Nelson Fagarazzi, 56, um dos donos, diz que já operou com a corretora Negocial. "Eu lembro desse nome." O negócio foi de compra e venda de ouro, mas ele não lembra o valor negociado. "Foi pouca coisa", diz. Eleitor de Paulo Maluf e de Celso Pitta, Fagarazzi diz que a empresa tem oito empregados e fatura R$ 20 mil por mês. Existe há 18 anos e faz peças para carros.

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