São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Problema auditivo afeta 10% no Brasil

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas e instituições médicas estão alertando para o crescente aumento dos distúrbios ligados à audição e ao equilíbrio corporal.
Segundo estudos internacionais, os problemas relacionados ao ouvido interno afetam cerca de 10% da população em geral e 70% das pessoas com mais de 70 anos.
Alimentação inadequada, automedicação, distúrbios do metabolismo, problemas vasculares e o estresse estão por trás da maioria das afecções.
Os sintomas, que podem aparecer associados ou não, são a vertigem, a perda da audição e o zumbido. Dependendo das causas, um distúrbio evoluirá para o outro.
"O labirinto é um órgão extremamente sensível e um dos primeiros a se manifestar quando alguma coisa não está bem no organismo", diz Mário Sérgio Munhoz, médico otorrino da Escola Paulista de Medicina e do Laboratório Fleury, de São Paulo.
Uma das duas funções do labirinto -ou ouvido interno- é a de transformar a energia sonora em energia bioelétrica e encaminhá-la ao sistema nervoso central.
O pedido de "pegue isso", por exemplo, que entra pelo ouvido, caminhará pelas vias específicas do cérebro até que a mão obedeça ao comando e segure o objeto oferecido.
Equilíbrio
A outra função do labirinto é transformar as informações sobre as alterações de posição do corpo em energia bioelétrica, que também seguirá ao cérebro. Cada vez que uma pessoa movimenta a cabeça, canais semicirculares do labirinto captam essa informação e a transmitem ao sistema nervoso central, permitindo que o corpo se adapte ao movimento.
Se ocorrerem distúrbios nessa comunicação, a pessoa sentirá vertigens e poderá cair. A manifestação é popularmente conhecida como tontura ou labirintite.
"A vertigem é hoje uma das queixas mais comuns nos consultórios", diz Maurício Ganança, especialista da Escola Paulista e do Laboratório Fleury. A tontura afeta em especial os idosos, mas o diagnóstico é cada vez mais comum em crianças e adolescentes.
"Ruído de lazer"
"O estresse emocional e a sobrecarga do dia-a-dia nas grandes cidades vêm provocando um aumento do número de afecções no labirinto", diz Décio Renato Campana, do Hospital do Servidor Público Municipal e presidente do Departamento de Otorrino da Associação Paulista de Medicina.
A perda auditiva induzida por ruídos -conhecida pela sigla Pair- é outra preocupação dos médicos. Em muitas indústrias pesadas, os protetores de ouvido não são usados.
Mas a preocupação mais recente é com o chamado "ruído de lazer". "É comum jovens que trabalham ou frequentam danceterias chegarem ao consultório reclamando de zumbido no ouvido", diz Campana. Muitos deles já apresentam perda da audição.
No Nordeste, a preocupação tem sido os trios elétricos. No 33º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, realizado em Recife há três meses, os trios elétricos foram chamados de "fabricantes de surdos" (leia texto nesta página).
Em São Paulo, um estudo da fonoaudióloga Márcia Moniz Frazza com crianças que estavam iniciando o 1º grau revelou que 20% delas apresentavam algum problema de audição. A pesquisa foi feita em uma escola próxima à região central. Segundo os médicos, se não forem tratadas, muitas das crianças terão dificuldades no aprendizado e no relacionamento.

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