São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Policial é absolvido em duas chacinas

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O soldado Eudes Aparecido Menezes foi pintado como um facínora pela polícia civil -estaria envolvido em chacinas, homicídios e cobrança de proteção a traficantes.
Para a Justiça, a polícia errou -Menezes foi absolvido de duas chacinas e um homicídio em que era acusado de participar em trajes civis. Com farda, ele matou 12 pessoas que teriam resistido à ordem de prisão, segundo a Justiça Militar. Os casos foram arquivados.
Má investigação
No último julgamento, realizado em dezembro, o promotor pediu sua absolvição de uma chacina em que morreram três pessoas e outras cinco ficaram feridas. Ganhou por sete votos a zero.
"A qualidade da investigação não era boa", diz o promotor Ivan Francisco Pereira Agostinho, 32, que atuou no caso.
Para ele, a polícia adotou uma linha de investigação equivocada -a de que os PMs estariam se vingando por não receber dinheiro de um traficante que estava no bar.
Ele acredita em outra hipótese -a de guerra entre traficantes. "A polícia descartou essa hipótese sem ter provas", afirma.
Não foi o único erro, diz. Um garoto teria dito que participara da chacina e a polícia não investigou-o a fundo, diz o promotor.
O delegado Carlos Alberto Pavarini, 31, diz que tanto o garoto quanto a hipótese de guerra do tráfico foram investigadas e se revelaram infundadas.
O sobrevivente
A chacina da Casa Verde Alta ocorreu no dia 20 de janeiro de 1995. Por volta da meia-noite, duas motos encostaram no bar e dois encapuzados desceram atirando.
Pelo menos uma pessoa acabou revidando os tiros -Silas Waldemar Lino, traficante confesso de cocaína. Lino sobreviveu e resolveu contar o que viu.
Disse à polícia que um dos homens perdeu o capuz no tiroteio. Ao ver dezenas de fotos de suspeitos, apontou Menezes.
Contou que havia atingido com uma bala o companheiro de Menezes quando ele fugia de moto. Um amigo de Menezes, o PM Jairo Ramos dos Santos, apareceu à época com um ferimento de bala na coxa.
Ao delegado, disse que se ferira testando um revólver. Na Santa Casa, não se identificou como policial e disse que fora atingido numa tentativa de assalto.
Sem provas
A história começou a fazer água no momento em que os sobreviventes foram reconhecer os acusados. Diante de fotos, apontavam Menezes. Ao vê-lo em sala com vidro, diziam que não era ele.
A principal testemunha, o traficante que identificara Menezes, acabou assassinado dois dias depois de ter sido preso sob a acusação de furto.
"Não havia prova alguma contra os dois", diz o promotor.
Aconteceu a mesma coisa na primeira chacina em que Menezes foi acusado, de 1991. Uma das três vítimas, Paulo Sérgio Pinto, ficou 11 dias internado antes de morrer.
No hospital, disse à irmã que ouvira a seguinte frase no tiroteio: "Eudes, coloca a capuz". O júri absolveu o policial.
O advogado de Menezes, o promotor aposentado Marcos Ribeiro Freitas, diz que foi "um absurdo" o que fizeram com seu cliente.
"Crucificaram uma pessoa a partir de um reconhecimento fotográfico precário", diz.
Preso há três anos, o PM não dá entrevistas. Continua detido no presídio Romão Gomes, exclusivo para policiais, sob acusação de ter matado uma estudante.
(MCC)

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