São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Sinalização ambígua

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

A recente permissão para que bancos voltem a conceder créditos garantidos por cheques pré-datados emite sinalização ambígua sobre a intenção do governo para o crescimento econômico deste ano.
A medida, isolada de outras variáveis, deve aquecer as vendas ao tornar menos caro um tipo de financiamento informal que já era generalizado.
Com isso, a demanda por crédito para o consumo aumentará, mesmo que essa tendência seja limitada pela probabilidade de o volume disponível de empréstimos não crescer na mesma proporção, já que os bancos, com taxas mais competitivas, apenas atrairiam operações até então realizadas pelas empresas de factoring.
Se é razoável supor que o governo não enquadrou as operações dos pré-datados com o objetivo de aquecer a economia, é igualmente aceitável presumir que a medida terá esse efeito colateral indesejável (para a equipe econômica).
Uma expansão acelerada, principalmente se baseada no aumento do consumo, não interessa porque não seria sustentável a médio prazo.
Médio prazo, no caso, não é um conceito vago -é 1988, quando FHC tenta a reeleição.
Para se reeleger -o que hoje seria barbada-, o presidente precisa que a economia chegue bem ao próximo ano. Não faz sentido político arriscar o único trunfo eleitoral que pode apresentar sem ser contestado -a inflação sob controle.
Pois um crescimento mais forte criaria incertezas nesse front. O problema é que o consumo maior pressionaria as importações e aumentaria o déficit comercial, que mostra vocação inequívoca para ser o calcanhar-de-aquiles do Real.
E o agravamento do desequilíbrio externo, por sua vez, tornaria insuportável a pressão por uma maior desvalorização do câmbio, que, por enquanto, é a única âncora do Real.
Esse é o quadro, e dentro dele não cabe qualquer estímulo à economia, que começa o ano mostrando algum vigor.
Se a medida dos pré-datados significar mais consumo, é de se prever alguma iniciativa que neutralize esse efeito.

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