São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Republicano reconhece a liderança do Mercosul

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O desacordo Brasil/EUA gira muito em torno do Mercosul, o conglomerado formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Ontem, no jantar em que Eizenstat deu seu ultimato, o deputado norte-americano Jim Kolbe (republicano) cobrou de seu governo o retorno a um papel de liderança na liberalização comercial, "sem o que outros países tomarão a vanguarda".
Kolbe citou o Mercosul como "um bom exemplo" de como outros países estão liderando a integração regional. O Brasil é, obviamente, o principal país do bloco comercial sul-americano.
A diplomacia brasileira defende, com todo o vigor, a tese de que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas, que abrangerá todos os 34 países americanos, menos Cuba) deve ser constituída bloco a bloco.
Ou seja, o Nafta (Área de Livre Comércio norte-americana, com EUA, Canadá e México) deveria negociar com o Mercosul e demais esquemas regionais, em vez de atrair, individualmente, cada país da região, como prefere Washington.
Anexação
Preferência, aliás, que ficou clara em ato falho de Fred Bergsten, o superespecialista em comércio e moderador do jantar de ontem.
Ao defender os acordos regionais, disse que o Nafta "se estenderia a toda a América Latina", dando claro sentido de anexação, pelo bloco mais rico, dos demais países da área.
O Mercosul está sendo alvo de frequentes críticas provenientes dos EUA.
No ano passado, um economista do Banco Mundial, Alexander Yates, condenou-o como uma espécie de fortaleza sub-regional, que protege setores supostamente ineficientes.
Ontem, o ministro argentino de Indústria, Comércio e Minas, Alieto Guadagni, chegou para o jantar armado de uma pilha de gráficos para provar que os países do Mercosul "não estão construindo uma fortaleza".
Entre os números, citou o fato de que as importações do Mercosul de países externos ao bloco cresceram 186% desde a criação do Mercosul, em 1991.
O chanceler brasileiro Luiz Felipe Lampreia, em seu discurso, reiterou as conhecidas queixas do Brasil contra medidas protecionistas norte-americanas, citando suco de laranja, aço e têxteis.
Aproveitou para deixar claro que o governo brasileiro não tem pressa, ao contrário dos norte-americanos, em liberalizar ainda mais a sua economia.
"Países que tinham uma economia fechada, como a nossa, já fizeram um grande esforço para absorver as mais de 5.000 páginas dos acordos da Rodada Uruguai", disse, referindo-se a essa etapa de negociações que foi a mais ampla jamais realizada no planeta, concluída em 1994.
"Precisam, agora, de uma parada", completou o ministro brasileiro.
(CR)

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