São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
Próximo Texto | Índice

Graxa dá lugar a computador na pista

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A HOMESTEAD (EUA)

Jovens pilotos que hoje buscam o sucesso no automobilismo de competição trocaram, nos últimos anos, a tática da "mão na graxa" pelo uso do computador.
Criticada por alguns pilotos mais experientes, a tendência é vista como evolução natural por quem compete nas categorias de ponta.
Atualmente, a telemetria, por exemplo, é uma ferramenta indispensável no ajuste dos carros. Há dez anos, a maioria acertava "no braço", com base nas sensações que tinha durante um treino.
Para Gil de Ferran, que compete na Indy pela equipe Walker, o aumento da tecnologia é fruto da profissionalização. "Não dá para fazer o relógio andar para trás."
Segundo Ferran, as equipes de Indy têm encontrado uma série de tecnologias em outras áreas que acabam sendo aplicadas no automobilismo de competição.
Segundo Pedro Paulo Diniz, 26, há três anos na F-1, a figura do engenheiro de telemetria é indispensável no automobilismo moderno.
"Tanto na F-1 quanto na Indy, é uma das pessoas mais importantes", diz. "Ele não coloca as mãos nas asas do carro, nem na mecânica, mas põe tudo para funcionar."
Outro brasileiro, André Ribeiro, da equipe Tasman, diz acreditar que os pilotos deixaram de "meter a mão na graxa" devido às atuais estruturas da equipes de ponta.
"Cada membro da equipe tem sua função específica. Não mexo na mecânica do carro, assim como um mecânico não pilota."
Crítico
O comentarista esportivo e ex-piloto Jan Balder, 50, diz "sentir pena" de alguns pilotos de hoje.
"Quando não havia tanta tecnologia, todos eram obrigados a mexer nos carros. Hoje, sinto pena dos que se acomodam e deixam a telemetria indicar o que fazer."
Cita o exemplo do alemão Michael Schumacher, bicampeão da F-1, em 94 e 95, para defender a idéia. "Ele sujou a mão de graxa no início de carreira. É um piloto que questiona os dados da telemetria e discute com a equipe."
Mas nem todos os pilotos mais experientes são críticos em relação à mudança. Wilson Fittipaldi, 53, que pilotou em várias categorias, inclusive na F-1, diz que "queria ter nascido 20 anos depois para correr com essa tecnologia".
Até em categorias-escola, como na Indy Lights, a informática ocupa papel de destaque.
Um carro de uma equipe de ponta tem cerca de 15 sensores, que indicam desde carga da bateria até a posição dos amortecedores.
"Isso é cerca de um terço do que existe nos carros da Indy", disse Matt Morris, engenheiro responsável pela telemetria da divisão de Indy Lights da Tasman.
Apesar de ser um sistema limitado, sem transmissão de dados via rádio para os boxes, custa cerca de US$ 25 mil para ser implantado.
Wilson, no entanto, critica o excesso de tecnologia nas categorias-escola. "Quem está começando precisa aprender na raça, precisa ralar para saber informar o que acontece com o carro."
O abuso tecnológico chega a preocupar até as entidades dirigentes das principais categorias.
Tanto a FIA, na F-1, como a Cart, na Indy, já impõem restrições ao uso de computadores com o objetivo de igualar as equipes.

LEIA MAIS sobre as mudanças no automobilismo à pág. 4-6

Próximo Texto: Rebelião capitalista vence fogueira da vaidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.