São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Rebelião capitalista vence fogueira da vaidade

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

André e Donizete estão no papo. Melhor que isso, só saber que esses craques vão se juntar a Ronaldo, Rodrigo, Célio Silva, Sangaletti, Romeu, Fábio Augusto, Neto, Souza, Marcelinho, Fernando Diniz, Túlio e Mirandinha para compor o maior dentre os mais ilustres elencos do futebol.
Nesse aspecto, o Corinthians já bateu o Palmeiras, seu mais antigo rival, que detinha a palma antes de se acender a fogueira das vaidades no Parque Antarctica e deflagrar a revolução capitalista no Parque São Jorge.
Se essa alquimia vai resultar no ouro da taça, não sei. Isso vai depender de Nelsinho, que já provou ser um técnico de campo competente. Mas será também um astuto administrador de poses e chiliques?
A experiência no outro Parque não o credencia muito nesse campo. Basta lembrar o "affaire" Evair, pivô da queda de Nelsinho: o técnico levou o conflito a tal ponto de impasse que o Palmeiras teve de congelar Evair, um dos maiores artilheiros de sua história, por longo tempo, antes de ressuscitá-lo para a quebra do jejum de 16 anos, já nas mãos de Wanderley Luxemburgo.
Por exemplo: com esse rico leque de opções, Nelsinho terá de assumir que só numa eventualidade Neto e Souza podem jogar juntos. A regra a ser adotada, pela lógica, é utilizar meio tempo cada um. Não só pela similaridade de estilos, mas, sobretudo, porque nenhum dos dois dá conta de mais de 45 minutos por vez.
Se Nelsinho conseguir enfiar na cabeça dos craques que todos sairão ganhando com essa decisão, principalmente eles, então, será a sopa no mel. Imaginaram ter de enfrentar um Souza, dando tudo no primeiro tempo, e, quando ele sair, pegar pela proa um Neto em esforço concentrado?
Mas, como dizem os velhos carteadores, o jogo é jogado. E só quando a bola rolar para o novo Corinthians é que saberemos quem está blefando.
Essa é uma das raras ocasiões em que o espetáculo colabora com a eficiência.
Os números são do Datafolha: a regra das 15 faltas elevou todos -absolutamente todos- os índices de que se compõe um jogo de futebol.
Isso sem desfigurar um traço sequer do jogo, posto que, embora houvesse aumento na média de gols, os resultados se mantiveram dentro dos padrões aceitáveis de partidas disputadas entre tradicionais clubes do Rio e de São Paulo: 2 a 2, 3 a 2 etc.
O que se eliminou foi o modorrento 0 a 0, 1 a 1, fruto daquela sequência interminável de faltinhas do meio-campo que apenas subtraem a expectativa da emoção, não acrescentando absolutamente nada ao jogo, a não ser tédio ou irritação.
Tanto que, durante a transmissão de um desses jogos do Rio-SP, no meio de semana, o vibrante locutor, creio que o José Silvério, que segue a bola como um raio laser, a todo instante tomava fôlego para sublinhar a velocidade com que a bola corria de cá pra lá.
E a Fifa ainda fica cogitando aumentar o tamanho do gol, reduzir para dez o número de jogadores por time e outras tantas besteiras que, estas sim, ferem o futebol na sua própria essência.

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