São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997 |
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Mídia está mais neutra, avalia trabalhista
ROSIE BOYCOTT
Pergunta - Até que ponto o sr. acha que precisará se tornar acessível aos tablóides, durante sua campanha? É necessário? O sr. gosta? Tony Blair - As pessoas querem conhecer a pessoa que se candidata a primeiro-ministro do país. É natural e certo. Querem conhecer o lado humano da pessoa, também. Muito mais pessoas têm falado comigo sobre minha participação no programa de Des O'Connor do que sobre a mais recente iniciativa política do Partido Trabalhista. Em certo sentido isso é muito frustrante para mim, como político, mas é a verdade. Pergunta - Analistas dizem que está ficando cada vez mais difícil diferenciar o sr. de John Major. Como o sr. pode impedir que a campanha vire uma corrida eleitoral presidencial, baseada só nas personalidades dos candidatos? Blair - Os conservadores andam dizendo isso, mas não acredito que isso vá acontecer. Também não acredito que o importante seja o fato de nossas personalidades serem ou não muito diferentes. Provavelmente são, mas e daí? Pergunta - Não é irritante ser avaliado pela qualidade do sorriso, em vez de suas posições políticas? Blair - Sim, é um absurdo. Acho que boa parte da chamada criação de imagens é menos importante do que as pessoas acham. Não estou querendo dizer que todo mundo vá analisar cada manifesto partidário, mas as pessoas devem ter uma idéia do rumo das prioridades e do caráter do partido político que vai governá-las. Pergunta - O domínio exercido por Rupert Murdoch sobre a televisão e o rádio no país lhe preocupa? Blair - Não. Na minha opinião, o importante é que as pessoas seja sujeitas a um contexto normativo adequado. Quanto aos proprietários de jornais, tudo que eu peço é que o Partido Trabalhista receba uma cobertura justa. Pergunta - Os trabalhistas têm essa cobertura justa, hoje? Blair - Mais do que algum tempo atrás. Pergunta - O que mudou? Blair - Em parte o próprio Partido Trabalhista, e, em parte, a mídia. A imprensa percebeu quão desastroso tem sido o governo conservador e ficou difícil para ela dar apoio incondicional aos conservadores. Se qualquer governo trabalhista houvesse se comportado como o governo conservador vem se comportando nos últimos cinco anos, já teríamos sido obrigados a renunciar. Pergunta - Como o sr. pretende enfrentar as próximas semanas? A acreditar pelo que ouvimos, John Major pretende ir para a cama às 21h30 toda noite. E o sr.? O que o sr. está fazendo para se manter em boa forma física? Blair - Estou me sentindo melhor do que eu estava desde minha época de faculdade, porque jogo tênis e de vez em quando faço ginástica. Estou tentando me manter fisicamente em forma porque isso é muito, muito importante. Pergunta - E como será para seus filhos quando o sr. se mudarem para Downing Street? Blair - Acho que devemos deixar essas questões para quando, e se, elas se colocarem. Pergunta - Sua mulher vai poder continuar trabalhando? Blair - Não vejo razão pela qual ela não poderia. E o sr.? Pergunta - Só estava pensando se o cargo de premiê não é um daqueles em que fica complicado a mulher ter uma carreira separada. Blair - Espero que já tenhamos amadurecido um pouco em relação a esse ponto. Afinal, ninguém disse a Dennis Thatcher que ele deveria parar de trabalhar. Por que deveria ser diferente para uma mulher? Minha mulher tem sua própria carreira, na qual é muito bem-sucedida. Acho que seria errado ela parar de fazer o que faz. Pergunta - Como o sr. relaxa? Qual foi o último filme que viu? Blair - Acho que foi um vídeo, que assisti com meus filhos. Acho que o nome era "Natal na Rua 34" -assisti com meus filhos no Natal. Na verdade, não vou muito ao cinema. Pergunta - O sr. tem tempo para ler? Blair - Tenho. Estou lendo um livro de um homem chamado George Dangerfield sobre a derrocada do Partido Liberal no início do século. E acabo de começar "Guerra e Paz". Pergunta - O sr. deve ficar acordado à noite de vez em quando, preocupado. Deve haver algo que o deixe acordado à noite. Blair - A única coisa que realmente me deixa acordado à noite é a preocupação com meus filhos. Quanto à política, sei o que quero fazer, sei que tenho algo a oferecer e acho que posso realmente fazê-lo e promover uma transformação no país. Pergunta - Seus filhos têm orgulho do sr.? Blair - Acho que sim, mas, na realidade, nunca perguntei a eles. Pergunta - Eles não se ressentem de sua ausência? Blair - Não, mas eu realmente me esforço para ter um tempo para eles. A razão pela qual não fico acordado à noite me preocupando com questões políticas é que, em última análise, sei o que quero fazer. Acho que posso mudar este país para melhor, e, se as pessoas quiserem isso, poderão fazê-lo; se não quiserem, cabe a elas decidir. Texto Anterior: Escola só prioriza elite, afirma candidato Próximo Texto: Para Blair, aborto não deve estar na campanha Índice |
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