São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Blair, aborto não deve estar na campanha

ROSIE BOYCOTT
DO "INDEPENDENT ON SUNDAY"

Pergunta - Boa parte do discurso trabalhista gira em torno dos valores familiares. Mas só diz respeito às famílias nucleares, em que papai e mamãe fazem a coisa certa. O sr. não acha que isso faz as mães e os pais separados ou solteiros se sentirem inadequados?
Tony Blair - Mas os pais solteiros ou separados também se preocupam com suas famílias. A maioria deles está nessa situação contra sua vontade. Estigmatizá-los não ajuda em nada.
Pergunta - O sr. acha que uma mãe morando sozinha com um filho num apartamentinho de sala e quarto é uma família?
Blair - Claro! Mas eu sempre disse que a melhor hipótese seria que as crianças fossem criadas por seu pai e sua mãe, juntos. Muitos pais sozinhos não podem trabalhar porque não têm como fazer os cursos necessários à sua formação profissional ou porque não têm com quem deixar seus filhos.
Estudamos programas para mulheres que querem retornar ao trabalho e de creches. Quando digo que a vida familiar é importante, não quero pregar sermões sobre a vida particular das pessoas. Nenhum político tem esse direito.
Pergunta - O aborto será uma questão importante na eleição?
Blair - Acho que será lamentável ao extremo se questões como o aborto se tornarem tema de política partidária. Essa é uma questão de consciência para os trabalhistas. Eu, pessoalmente, sempre mantive a mesma postura a esse respeito. Não conheço quem ache a idéia do aborto atraente.
Pergunta - Não, e não existe mulher no mundo que tenha vontade de fazer um aborto.
Blair - A lei criminal não é a maneira apropriada de tratar a questão. Em última análise, é uma decisão que cabe às próprias pessoas envolvidas. Então, continuo dizendo que eu, pessoalmente, não sou "pró-aborto". Isso seria ridículo. Não conheço ninguém que seja. Mas a questão é se a sociedade tem o direito de julgar uma mulher que se encontra numa situação de agonia -por exemplo, quando ela corre o risco de ter um filho gravemente incapacitado- e decidir que ela está cometendo um crime. Não acredito que caiba a mim criar leis para tomar essa decisão.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Mídia está mais neutra, avalia trabalhista
Próximo Texto: Benazir tenta voltar ao poder amanhã
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.