São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Bulgária vive pior crise pós-comunismo

TONY BARBER
DO "THE INDEPENDENT"

No começo do ano, os salários valiam o dobro. O lev, a moeda nacional, cai a cada hora. Até mesmo salsichas e bananas são muito caras para alguns consumidores.
A Bulgária vive sua pior crise econômica desde que o edifício comunista começou a ruir, em 1989. O presidente Petar Stoianov, recém-empossado no cargo, disse a líderes europeus na semana passada que a Bulgária poderia dar o calote de sua dívida externa de US$ 10 bilhões.
O Banco Nacional Búlgaro (o banco central) admitiu na semana passada que não tem os recursos necessários para controlar a crise. "O BNB sozinho não poderá conter maiores depreciações da moeda, a inflação galopante e a cada vez mais profunda desestabilização do sistema financeiro", disse um comunicado do banco.
Quase não sobra dinheiro para importar combustíveis e grãos. O FMI (Fundo Monetário Internacional) retém um crédito de US$ 115 milhões porque diz que o governo socialista do país não introduziu reformas econômicas significativas.
Impasse
Na realidade, é duro hoje em dia dizer se a Bulgária tem um governo. Jan Zidenov, o premiê desde 1994, deixou o cargo em dezembro, após seus aliados serem derrotados nas urnas pelo presidente Stoianov.
Depois, protestos de rua maciços começaram contra os socialistas no início de janeiro, quando estudantes, trabalhadores e políticos da oposição passaram a exigir a realização de eleições parlamentares antecipadas.
Milhares de mineiros e funcionários do setor público estavam em greve na sexta-feira, e manifestantes bloqueavam as estradas em direção à Grécia pelo terceiro dia consecutivo.
Como os socialistas são o maior partido do Parlamento, Stoianov pediu ao ministro do Interior, Nikolai Dobrev, formar um novo governo. Mas, sentindo a profundidade de hostilidade em relação a seu partido, Dobrev não tem demonstrado pressa em cumprir essa tarefa.
Ele inclusive chegou a dizer que a melhor solução possa mesmo ser um governo de coalizão que inclua os opositores. As consultas junto aos outros partidos deveriam continuar este final de semana.
Enquanto isso, a crise nas ruas e nas lojas ganha impulso. Estima-se que a inflação mensal já seja de 50% e que a anual de 1997 deva beirar os 3.600%.
O dólar, que comprava 70 levs há um ano e 495 no começo deste, na sexta-feira equivalia a 1.900 levs. O colapso da moeda corroeu as poupanças de milhares de búlgaros.
Longas filas se formam do lado de fora dos bancos de Sófia. As pessoas querem sacar o dinheiro e trocá-lo por dólares, marcos alemães ou outras moedas fortes.
O lev é tão desvalorizado que alguns cidadãos já preferem investir em eletrodomésticos baratos a a poupar.
O presidente põe a culpa em seus adversários socialistas, mas lembra que o país também foi prejudicado pelas sanções impostas ao Iraque e aos países que formavam a Iugoslávia, ambos grandes parceiros comerciais da Bulgária. As perdas são calculadas em até US$ 6,5 bilhões.
Hans van den Broek, comissário da União Européia para o Leste Europeu, disse a Stoianov que a Bulgária tem primeiro de resolver suas crise política e suas pendências com o FMI antes que a UE possa providenciar mais ajuda financeira.

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