São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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IMPREVISÍVEL POLÍTICA

Durante o debate em torno da reeleição para o Executivo, que culminou com a aprovação pela Câmara da emenda que prevê esse direito, na última terça-feira, ficou evidente um quadro político que conspira tanto contra os vencedores como contra os vencidos. O mesmo personalismo que fortalece hoje o presidente da República enfraquece os partidos e, consequentemente, a própria base de sustentação do governo federal.
Fernando Henrique Cardoso governa com o apoio de, principalmente, PSDB, seu partido de origem, PFL e PMDB. Aparentemente confortável, essa situação, na verdade, não chega a garantir ao presidente uma maioria no Congresso realmente confiável, estável, com a qual ele possa contar sem ter de lançar mão de ofertas pontuais toda vez que surja uma votação de grande importância.
Há três semanas, o PMDB realizou sua convenção, que recomendou aos representantes do partido no Congresso votar contra a emenda da reeleição. Os parlamentares peemedebistas deveriam também defender que a votação fosse levada para depois do dia 15 de fevereiro.
Os defensores do cumprimento das recomendações da convenção -não necessariamente por respeito a essa instância, mas também em favor de seus interesses- ficaram isolados, e prevaleceu a negociação com o governo. Esse desfecho enfraqueceu o partido e, por consequência, o atual sistema partidário, que precisa ser contemplado com mudanças numa ampla reforma política.
Mas, se sua base de apoio não chega a lhe dar total tranquilidade, FHC não tem hoje motivos para se preocupar com a ação dos partidos declaradamente de oposição. Sem claras bandeiras, em geral desarticulados e evidentemente abalados pela aprovação da emenda da reeleição, os oposicionistas -principalmente os de partidos de esquerda- ocupam hoje um espaço pouco significativo.
Tal fraqueza dos que deveriam se contrapor ao governo com propostas, críticas e a apresentação de diferentes caminhos para a economia, saúde, educação etc. -o que teria efeitos benéficos para o país- lança a nação sobre uma aparente pacificação política. Entretanto, a imprevisibilidade dos congressistas e a fragilidade das alianças revelam muito mais insegurança do que certezas.

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