São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Não há uso seguro, diz associação

DA REPORTAGEM LOCAL

A Associação dos Portadores da Síndrome da Talidomida afirma que a ampliação no uso da droga provocará um aumento no número de suas vítimas.
Segundo a presidente da entidade, Claudia Marques Maximino, um "termo de compromisso" assinado pelo paciente "só serviria para livrar a cara do médico e do laboratório".
O Morhan, ONG voltada para pessoas atingidas pela hanseníase, informa que a responsabilidade será sempre do médico, mesmo quando a paciente é informada.
Segundo a entidade, o emprego de anticoncepcionais durante o uso da talidomida não é seguro, pois uma droga anularia a outra.
"O uso da droga só seria seguro se houvesse um controle total sobre as mulheres que estão grávidas", diz Claudia. "Mas esse controle não existe."
A associação reúne dezenas de casos de crianças sem braços ou pernas vítimas da desinformação da mãe ou do médico.
Jonathan e Thiago, com 3 anos, por exemplo, nasceram com a síndrome porque os médicos receitaram a droga para enjôo na gravidez. Claudia, fundadora da associação, nasceu sem as pernas, depois que a mãe usou a droga em 62.
Membros do Morhan já localizaram 62 "vítimas da segunda geração" da talidomida. Segundo Artur Custódio, que dirige essa ONG no Rio de Janeiro, a maioria das vítimas eram filhas de mães com hanseníase que tomaram a droga durante a gravidez.
"A restrição ao uso objetiva evitar novas vítimas", diz Elisaldo Carlini, secretário nacional da Vigilância Sanitária. "Muitas mulheres grávidas tomaram o remédio por falta de informação delas ou dos médicos."
Em outra frente, a associação da talidomida e o Morhan acusam o governo de colocar todos os tipos de dificuldade para reconhecer e pagar pensão às vítimas.
Segundo Claudia, a Previdência está exigindo que a mãe da criança apresente um atestado do médico reconhecendo que receitou a talidomida. "Nenhum médico fará isso", observa.
A associação diz que há 200 processos aguardando direito à pensão. Outras 320 vítimas já estão recebendo. No ano passado, a associação entrou com representação junto à Procuradoria da República pedindo indenização às vítimas por "omissão, negligência e descaso" do governo. "As vítimas estão desamparadas", diz Claudia.

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