São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Comportadas radicalizam no Carnaval

DA REPORTAGEM LOCAL

O Carnaval faz "baixar" nelas uma espécie de Carla Tchan. Recatadas durante o ano, essas mulheres entram no bloco vestidas apenas com o necessário para garantir liberdade na performance.
"Não dá para pular Carnaval de calça comprida", justifica a arquiteta Renata Cingano, 32, que programou sair ontem de biquíni e fantasia na ala "Estrela do Mar" da escola de samba Tom Maior, do Grupo Especial paulistano.
Renata, que mede 1,68 m e pesa 72 quilos, diz que está fora do seu peso normal, mas não tem vergonha de se vestir com pouca roupa.
"E olha que eu sou daquelas que tem bastante coisa para mostrar. Não estou nem aí", diz. "Ponho o meu biquíni de lantejoulas e caio na folia."
Excepcionalmente, o marido de Renata vai acompanhá-la este ano. "Não sei o que deu nele para resolver ir junto comigo para o sambódromo", diz. "O pior é que nós vamos sair na mesma ala " (leia depoimento nesta página).
Nipo-baiana
Para a representante comercial Helen Toyoshina, 23, Carnaval é sinônimo de axé music. "Todo ano eu vou para a Bahia", conta.
Helen é filha de uma baiana e de um nissei, mas diz que "puxou" mais à mãe. "A gente nem come sushi lá em casa", afirma.
O traje básico de Helen no Carnaval é shortinho, boné e camiseta. "A camiseta eu corto e transformo em miniblusa, para dar mais liberdade na hora de pular."
Mesmo com pouca roupa (ou até por causa disso), Helen diz que fica irreconhecível. "Quem me conhece trabalhando, de blazer e salto alto, não imagina que eu possa sair assim no Carnaval."
Para acompanhar blocos ou trios, Helen diz que não precisa de nenhum aditivo.
"Tomo refrigerante e muito doce, para repor a energia. Mas só", diz. "O resto já está no sangue."
Ao contrário de Helen, a empresária Alice Pereira, 45, conta que só "deslancha" depois da segunda caipirinha. "Cheguei à conclusão de que tenho dupla personalidade", diz.
A personalidade carnavalesca de Alice só aparece no meio da multidão. "Não gosto de escola de samba nem de trio elétrico", diz. "Pre firo estar anônima, no meio de um bloco de rua, sem organização."
Ela diz que a mistura de bebida e samba tem um poder transformador. "Pelo menos naquele momento, eu me sinto muito a mais bela das mulheres", explica.
Alice lembra que, no ano passado, "sumiu" em um bloco de rua no Rio. "Estava na casa de uma cunhada, em Vila Isabel (zona norte), passando o Carnaval, quando o bloco apareceu."
Short e sutiã
Helen conta que, quando ouviu a bateria, já tinha bebido um pouco. "Era sábado e ia ter feijoada em casa", diz. "Estava todo mundo alto", lembra. Vestindo short e o sutiã do biquíni, Alice alcançou o bloco e se aproximou da bateria.
"Fiz aquela linha dedinho no umbigo, samba no pé e o pessoal da banda foi juntando em volta", lembra. "Eu me senti a própria rainha da bateria."
Não importa se o samba acontece no bloco ou na avenida, o importante para a gerente de bar Tanini de Oliveira é que ela esteja desacompanhada.
"Sou comportadíssima durante o ano inteiro", explica. "No Carnaval, quero mais é me divertir."
Tanini diz que namoro e Carnaval dificilmente "evoluem" juntos. "Já terminei namoro várias vezes por causa do Carnaval."
"Gosto de me sentir à vontade, com um mínimo de roupa e não quero ninguém me controlando."

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