São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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O déficit em serviços

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

No balanço de pagamentos de um país há uma conta onde se registram as transações referentes às compras e vendas de serviços. Junto com a balança comercial, essas duas contas resultam na conta que se chama transações correntes. Mas poucos têm prestado atenção para o enorme crescimento do déficit na conta de serviços.
Há três tipos de desembolsos com serviços. Um relaciona-se a turismo e lazer (como o aluguel de filmes e de música estrangeira); outro está relacionado ao comércio de mercadorias (despesas com seguros e com o frete de transportes); e o terceiro são os pagamentos a fatores de produção como trabalho (salário dos diretores de empresas estrangeiras) e capital.
Nesse último item são contabilizados os juros pagos ao dinheiro tomado emprestado, as remessas de lucro ao capital de risco e os royalties devidos ao aluguel de patentes e tecnologias.
Quando um país toma muito empréstimos externos para financiar seus déficits, como o Brasil vem fazendo, o déficit na conta de serviços passa a aumentar devido aos juros pagos às dívidas acumuladas, mostrando o ônus do endividamento crescente.
Os pagamentos com juros, lucros e dividendos remetidos ao exterior, por exemplo, cresceram de US$ 10,2 bilhões em 1993 para US$ 13,0 bilhões em 1996.
Adicionalmente, quando a taxa de câmbio está defasada, o preço das viagens internacionais fica mais barato, viaja-se mais para o exterior e gasta-se bem mais com turismo. O déficit em turismo é um dos fatores importantes nos déficits acumulados na conta de serviços: aumentaram de US$ 800 milhões em 1993 para US$ 3,6 bilhões em 1996.
O importante a registrar, conforme se vê no gráfico, é que o crescimento do déficit em serviços mostra uma trajetória que será insustentável. Saímos de déficits na casa dos US$ 14 bilhões até 1994 para US$ 26 bilhões em 1997. É quase o dobro. E a conta deve chegar a US$ 32 bilhões em 1998, se o câmbio continuar atrasado.
Somado com o déficit comercial, verifica-se que as contas externas estão em situação de desequilíbrio grave. Quem aponta que a taxa de câmbio está defasada e que o desequilíbrio externo é preocupante não o faz para "destruir" o "Real", mas para chamar a atenção que os déficits de hoje são dívidas que iremos pagar amanhã.

Álvaro A. Zini Jr., 43, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e autor do livro "Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil", Edusp, 1993.

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