São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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BC consegue tirar 'fôlego' do câmbio

Venda de títulos esfria mercado

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central conseguiu em janeiro pôr panos quentes no mercado futuro de dólar, que viveu a ameaça de uma onda especulativa.
Alguns números ilustram o "biorritmo" da confiança dos operadores no futuro do câmbio.
Em primeiro lugar, a taxa anual de variação do câmbio que os negócios do mercado futuro projetam. Essa taxa estava no final de 96 próxima de 7,5% ao ano, nos vencimentos com maior procura.
À medida que a desconfiança aumentou -inflada pelo crescimento das importações e do déficit comercial-, chegou a 11,5%.
Outro indicador do aumento é o aumento do volume de contratos de dólar negociado na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
Em janeiro o volume de contratos registrou crescimento de 11% com relação ao mês anterior. Passou de um total de 4 milhões, em dezembro, para chegar aos 4,44 milhões no mês passado.
Para se ter uma idéia de como mudou o "humor" do mercado nesses últimos meses, a média mensal de contratos negociados ao longo de 96 foi de 8,4 milhões.
No outro extremo, está o período seguinte à crise mexicana, no final de 94 e início de 95.
Em março de 95, por exemplo, os investidores negociaram 14,9 milhões de contratos de dólar futuro.
"Aumentando a aposta"
Agora a arma usada pelo BC foi a venda de títulos públicos que pagam ao investidor a taxa de variação do câmbio. Ou seja, no caso de uma aceleração das desvalorizações, o investidor está protegido.
O BC vendeu apenas em janeiro mais de US$ 4 bilhões, com prazos de vencimento de até três anos.
Conforme disse o economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, a mesa de câmbio do BC estava nessa ocasião "gastando bala e aumentando a aposta".
Aposta, no caso, contra os que acreditavam que o dólar está muito barato e servindo de estímulo para as importações -o que seria insustentável a médio prazo.
Banda curta
O mercado contou ainda com uma declaração do ministro Pedro Malan (Fazenda), que afirmou estar interessado em "aperfeiçoar" o sistema de bandas.
Com esse sistema o BC define o piso e o teto para as cotações do dólar, no mercado à vista.
Na verdade, os limites atuais para a flutuação do dólar não têm utilidade alguma, diz Bacha. E uma nova banda precisará ser criada, já que o teto de R$ 1,06 deve ser atingido no final de março.
Bacha diz que uma forma de aperfeiçoar o sistema seria criar bandas mais curtas.
"O fato é que a banda que está aí não serve para nada."

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