São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Brasil sai atrás na economia ligada em rede

País é 41º no ranking global

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O Brasil sai atrasado na construção da "networked society", a expressão que tende a ser dominante nos próximos anos e pode ser traduzida, livremente, por sociedade ligada em rede.
Para ligar-se à rede são necessários dois instrumentos básicos: telefone e computador.
No ranking mundial dessa sociedade em rede, divulgado na edição 1997 do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ficou em um distante 41º lugar (ver quadro).
Apenas 0,12 de cada mil brasileiros estão plugados na Internet, contra 21,82 norte-americanos.
"A tendência é ampliar a brecha entre ricos e pobres, embora a discussão não seja mais entre comunismo e capitalismo, mas entre sociedades ligadas em rede versus sociedades não-ligadas", diz, por exemplo, Yoichi Funabashi, chefe do escritório de Washington do jornal japonês Asahi Shimbun.
Tem razão: a economia dos EUA é umas oito vezes maior do que a brasileira, mas os norte-americanos plugados na rede são 180 vezes mais do que os brasileiros.
Impressiona, mas ainda não é razão para desespero, ao menos em termos de negócios, a faceta da rede mais discutida em Davos, cidade suíça que sediou o fórum.
Nos negócios, a rede está "no estágio infantil", diz Scott Cook, da Intuit Inc., empresa norte-americana cuja estratégia é revolucionar a automação financeira.
Assim a revolução comercial que a rede tende a provocar é enorme.
Na superfície, é apenas uma atualização dos velhos mercados medievais, nascidos para que consumidores e vendedores tivessem um ponto de encontro.
A vital diferença é que o ponto de encontro é virtual, o que permite que vendedores e compradores se encontrem 24 horas por dia, sem a barreira da distância.
"Abre a perspectiva de cortes no custo de distribuição e dá informação muito mais detalhada sobre os padrões de compra de cada indivíduo", diz Harald Einsmann, diretor para a Europa da Procter & Gamble, considerada pioneira no marketing via computador.
Einsmann espera que a "networked society" reforce a lealdade do cliente em relação à marca.
Na outra ponta da sociedade em rede fica o que o novo jargão designa como comunidades virtuais.
Ou seja, um grupo de pessoas que se comunica, estando no Alaska ou no Bom Retiro, via computador, unido por um "conjunto de interesses comuns", diz John Hagel, da McKinsey, consultoria dos EUA presente em 35 países.
O interesse comum pode ser desde trocar idéias sobre como criar filhos pequenos até informações sobre tipos raros de cães.
Mas, atenção, quem está na outra ponta da linha não quer ser tratado apenas como consumidor.
"(A rede) serve como um instrumento para a mais importante tarefa do século: revitalizar a vida cívica em desintegração", esbraveja Howard Rheingold, autor de um punhado de livros sobre o assunto.

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