São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Um mundo sem 'ninguém no comando'

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Quando Howard Rheingold fala em "revitalizar a vida cívica", toca em outro dos pontos essenciais discutidos este ano em Davos: quem manda hoje no mundo?
John Naisbitt, o norte-americano que se tornou um dos grandes gurus sobre tendências mundiais, acha que o fascínio da sociedade em rede é justamente o fato de que "ninguém está no comando".
Esse extremo individualismo derruba ainda mais os já reduzidos poderes do Estado, como constatam Klaus Schwab e Claude Smadja, presidente e diretor-gerente do Fórum Econômico Mundial.
Com a disseminação de informações instantâneas, de múltiplas fontes, características da sociedade em rede, "os governos estão sendo privados do que era, até recentemente, um clássico instrumento de poder, a informação privilegiada", dizem.
Não é só o fluxo de informações que minimiza o papel dos governos e dos Estados. É também o fluxo do dinheiro, sempre decorrência da "networked society".
"Com crescente mobilidade, o capital tem opção de sair se as políticas nacionais fiscais, sociais e de renda minimizarem as taxas de retorno, o que reduz a margem de manobra dos que fazem políticas nacionais", diz texto conjunto de cinco chefes de institutos de pesquisa econômica.
Eleitos e não-eleitos
Esse efeito da globalização (outro nome da sociedade em rede) começa a provocar reações não só sobre os efeitos sociais mas também sobre o aspecto político.
Diz, por exemplo, o sindicalista francês Marc Blondel, secretário-geral da "Force Ouvri'ere" (Força Operária): "A perda de poder das elites políticas é um problema das democracias: a sociedade elege os homens públicos e não os executivos e economistas".
Um problema que já se reflete nas pesquisas de opinião. Segundo Joseph Nye, reitor da Escola de Governo John Kennedy, da Harvard University, só um quarto da população dos EUA confia no seu governo, tendência que contamina outras instituições, incluindo universidades, igrejas e hospitais.
Culpa, diz Nye, das transformações da economia, da tendência de um papel maior para o indivíduo e da função da mídia.
Talvez por isso, a Oxford Analytica, consultoria britânica que se ampara na sabedoria de 750 professores dessa mitológica universidade, preveja um retrocesso na tendência para cortes em gastos governamentais, ao menos em áreas essenciais, como saúde e educação.
"Não é certo, para dizer o mínimo, que o gasto governamental em muitos países da OCDE (o clube dos 29 mais ricos do mundo) vá cair muito abaixo da média de 40% a 60% do PIB (medida da riqueza nacional) na próxima década", diz relatório da Oxford especial para o Fórum-97.

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