São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Clinton promete fazer ajuste fiscal

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O presidente Clinton iniciou seu segundo mandato à frente da Casa Branca prometendo equilibrar as contas públicas em cinco anos. Em 2002 surgiria um superávit de US$ 17 bilhões. Em 1998, o déficit esperado é de US$ 120,6 bilhões.
A proposta foi recebida com o ceticismo habitual. Mas, ao contrário do que aconteceu em 1988, desta vez a oposição republicana está aceitando negociar em torno do projeto oficial.
Como os Estados Unidos são a mais importante economia do planeta, numa época em que fazer ajuste fiscal virou sinônimo de milagre na grande maioria dos países, é importante acompanhar mais de perto o processo.
A disposição da oposição para negociar talvez seja o primeiro sinal mais concreto de que o discurso de consenso defendido por Clinton tem alguma chance de emplacar. Num sistema político que durante décadas representou um dos mais nítidos regimes bipartidários, é uma novidade e tanto.
O feito prometido por Clinton é ainda mais surpreendente quando se examinam os mecanismos que ele sugere para reduzir gastos e aumentar a arrecadação.
Ele ousa propor um corte nas despesas de assistência médica aos idosos (menos US$ 100,2 bilhões em cinco anos). E um aumento na arrecadação através de mais impostos sobre empresas e eliminação de brechas no sistema tributário (ofensiva que traria US$ 76 bilhões a mais para os cofres públicos ao longo do mesmo período).
Cabe à oposição republicana decidir agora se negocia em cima da proposta de Clinton ou se elabora um projeto alternativo.
Anti-social ou não?
Todo ajuste fiscal (menos gastos públicos, mais impostos) é em geral interpretado como "política anti-social". O presidente dos EUA parece querer encontrar um meio-termo, tarefa que fica facilitada num momento em que a economia norte-americana mostra-se vigorosa, crescendo, com baixo desemprego e inflação idem. E a população sênior, que poderia reclamar dos cortes, vive atualmente uma fase de rara felicidade.
O índice de preços ao consumidor, critério utilizado para reajustar as aposentadorias, teria sido superestimado ao longo dos últimos anos. Na prática, isso significa que os benefícios tiveram reajustes reais extraordinários, deixando mais ricos os mais velhos.
Como nesse mesmo período a Bolsa de Valores teve uma alta excepcional, os investimentos desses felizes aposentados tiveram rendimentos igualmente incomuns. Assim, cortar mais fundo nos gastos de assistência médica dos velhinhos parece não ser tão difícil.
Ao mesmo tempo, Clinton propõe a volta dos benefícios previdenciários e de alimentação para imigrantes e para desempregados.
O chamado "big business" é outro alvo escolhido por Clinton. Ele quer mais impostos sobre as operações de fusão e aquisição de empresas, além de reduzir deduções sobre dividendos distribuídos.
O presidente dos EUA também gostaria de arrecadar pelo menos US$ 7,5 bilhões a mais, até o ano 2002, tributando as operações das empresas multinacionais com suas subsidiárias mundo afora.
É nessa área que a briga com os republicanos promete esquentar.

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