São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Bebês, robôs e intenções

PEDRO PAULO BALBI DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Folha dedicou um Mais! (24/3/1996) a avanços recentes em inteligência artificial e suas implicações em nossa forma de pensar os computadores e as capacidades cognitivas humanas. Por mais arrojados que sejam os projetos mencionados -como o programa Deep Blue, que chegou a vencer uma partida de xadrez contra o campioníssimo Kasparov-, suas bases teóricas encontram uma enorme resistência no meio acadêmico, ainda que não numericamente expressiva.
No entanto, membros desta minoria eloquente têm conseguido, progressivamente, roubar espaço da escola hegemônica em ciência cognitiva -aquela de orientação cognitivista-, em que a suposta existência de representações mentais constitui a base e o cerne das habilidades cognitivas humanas.
O livro "Catching Ourselves in the Act" (Apanhando-nos em Ato), do holandês Horst Hendriks-Jansen, é o mais recente clamor contra as premissas cognitivistas e, em particular, contra uma de suas encarnações mais evidentes: o paradigma computational na ciência cognitiva.
A partir de elementos trazidos da etologia, sociologia, antropologia, das pesquisas em agentes autônomos (especialmente as abordagens recentes em robôs autônomos) e da teoria da evolução, Hendriks-Jansen formula as bases de uma alternativa científica para o comportamento inteligente.
Na explanação do comportamento inteligente, o caminho tomado por vários autores e tradições de pensamento que negam (ou, pelo menos, procuram enfraquecer) o papel das representações mentais invariavelmente leva a uma ênfase nas ações do sujeito no mundo. Mas Hendriks-Jansen vai além, detalhando processos mais fundamentais, que, segundo argumenta, eliminariam as restrições de descrições do comportamento inteligente baseadas nos "atos" do sujeito.
Esses processos -as noções de "atividade situada" e "emergência interativa"- definidos a partir da corporeidade ("embodiment") do sujeito no mundo, forneceriam um meio pelo qual a intencionalidade dos processos mentais poderia ser explicada por intermédio do mecanismo de seleção natural.
Vale lembrar que intencionalidade neste contexto não se refere à conotação familiar que temos do termo (o sentido de algo que é feito deliberadamente), mas sim à conotação técnica em filosofia, que se refere a conceitos que são, intrinsecamente, sobre outros (tal qual um livro é necessariamente sobre algum assunto), classe essa de conceitos que aparenta ser uma característica fundamental dos estados e eventos mentais.
Apesar da qualidade de seu trabalho, Hendriks-Jansen, 57, ainda é relativamente desconhecido, mesmo na comunidade acadêmica, o que deixa de ser paradoxal quando se considera sua trajetória peculiar de vida.
Indonésio de nascimento, passou a maior parte da infância em campos de concentração na Europa. Depois de se formar em Matemática no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), dedicou uma década ao ensino de ciências na Espanha e na Grécia. Nas duas décadas seguintes, trabalhou com projetos de edifícios e equipamentos para crianças com problemas mentais e na produção de software em sua própria empresa.
A seguir, um resumo do livro (editado pela MIT há três meses), escrito pelo seu próprio autor, especialmente para a Folha.

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