São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Russo propôs origem siberiana do homem

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O casal de arqueólogos Yuri A. Mochanov e Svetlana Fedoroseeva, da Academia Russa de Ciências, estava explorando o sítio de Diring-Yuriakh, na Sibéria, tentando escavar um túmulo de 3.000 a 4.000 anos. Com grande surpresa encontraram por baixo do túmulo variadas pedras com formatos diferentes, grosseiramente acabadas.
Pedras semelhantes já haviam sido por eles vistas, provenientes da África Oriental e datadas de 2,4 milhões de anos.
Eram os mais antigos instrumentos feitos por ancestrais do homem na opinião da maioria dos especialistas. A Sibéria tinha, na época das descobertas do casal de pesquisadores russos, uns 20 mil a 30 mil anos, segundo se acreditava.
Isso intrigou o casal. Encontrar em local relativamente tão recente pedras tão antigas. Com o tempo Mochanov reuniu mais de 4.000 instrumentos de pedra e seus estudos preliminares de datação concluíram que eles eram de 3 milhões de anos.
Os dois fatos reunidos -a idade e a semelhança com os instrumentos africanos- levaram-no a imaginar uma hipótese -a de a origem da humanidade ter sido em Diring, e não na África, idéia que foi rejeitada pela totalidade dos especialistas.
Porém Mochanov não desistiu de sua hipótese, agora quase uma obstinação, e passou a visitar os grandes especialistas, que tentou convencer e aos quais apresentou suas amostras. Logrou êxito relativo. Alguns cientistas passaram a ver com simpatia seus achados e suas idéias.
Novos estudos de datação feitos com a técnica de termoluminescência avaliam em cerca de 500 mil anos a idade dos instrumentos levados pelo russo.
Muito menos do que imaginara Mochanov, mas mesmo assim uma data muito remota, que abrangia a era do Homo erectus, antepassado humano que viveu aproximadamente de 1,7 milhão de anos a 200 mil anos. Um dos grandes simpatizantes das idéias de Mochanov foi Dennis Stanford, diretor do departamento de antropologia da Smithsonian Institution.
A balança mostrava sinais de estar virando para o lado do russo, a ponto de a National Geographic Society destacar o especialista Michael Waters, da A&M University do Texas, para ir a Diring acompanhar os trabalhos de Mochanov e ajudá-lo no que fosse possível.
Waters confirmou a noção de se tratar de instrumentos e não de artefatos produzidos pelas transformações geológicas.
Mas Diring não apresenta fósseis de Homo erectus nem de animais que pudessem testemunhar os meios de adaptação ao frio de muitos graus negativos, mas as condições eram favoráveis ao uso da termoluminescência. Segundo a hipótese de Mochanov e seus seguidores, o Homo do Ártico teria penetrado as Américas através da Beríngia, faixa de terra onde hoje é encontrado o estreito de Bering.
Em meio às celebrações pela origem e pela precoce penetração das Américas, muitos defendem a idéia de que essas foram povoadas muito antes de 14 mil anos. Comenta Virginia Morell ("Science", 363, 112) que, no meio das comemorações, só uma pessoa não está satisfeita: Mochanov, que insiste em sua data mais antiga de 3 milhões.

Texto Anterior: Novo teste é desenvolvido
Próximo Texto: Como se descobriu que a Terra gira em torno do Sol?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.