São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Bucaram lança 'campanha de legalidade'

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

O presidente destituído do Equador, Abdalá Bucaram, vai tentar recuperar seu cargo por meio de uma "campanha de legalidade".
Bucaram foi declarado impedido de seguir presidente pelo Congresso na última quinta-feira à noite, quando 44 dos 82 deputados equatorianos se apegaram ao artigo 100 da Constituição do país e declararam Bucaram "mentalmente incapaz" para governar.
"Eu quero o diálogo, mas não vou aceitar decisões absurdas e autoritárias", disse Bucaram no fim da tarde de anteontem, horas antes do fim do ultimato dado pelo Congresso para sua renúncia.
Por volta das 22h de sexta-feira, o presidente saiu do Palácio do Governo, onde passara 41 horas "entrincheirado", e foi para sua cidade natal, Guayaquil.
Militares
Na noite de sexta, a alta cúpula das Forças Armadas se reuniu para discutir a crise. Emitiu nota afirmando apenas que vai garantir o Estado de Direito no Equador.
Segundo TVs e jornais equatorianos, os militares querem a renúncia de Bucaram, a posse da vice Rosalía Arteaga e novas eleições em seis meses.
Paco Moncayo, chefe do comando conjunto das Forças Armadas, é visto no Equador como o "fiel da balança". Popular, é tido até como opção de poder. De sua posição depende a governabilidade.
O ministro da Defesa, Victor Bayas, declarou estado de emergência no Equador, anulando garantias constitucionais imediatas. "É preciso garantir a ordem até que a crise se solucione", afirmou Bayas.
Congresso
Já o Congresso publicou ontem decreto segundo o qual seu presidente, Fabián Alarcón, assume o cargo de Bucaram por um ano até serem realizadas novas eleições.
"O presidente impedido tem que entender que está fora do poder. Deveria colaborar", disse Alarcón.
Bucaram iria tentar se encontrar ontem à tarde com sua vice, que também se proclamou presidente do país, para formar uma frente contra os congressistas.
Os EUA declararam na manhã de ontem que permanecem atentos à crise, mas não apoiaram nenhum dos lados.
Já o presidente argentino, Carlos Menem, apoiou formalmente seu colega Bucaram. Menem é amigo de longa data de Bucaram. Conhecido como "El Loco", o equatoriano já gravou um disco e convidou Menem a participar do segundo.
Calma
Para um país com três autoridades clamando o poder e nenhuma o ocupando de forma efetiva, o Equador surpreende pela calma.
Com exceção do fim da tarde de ontem, quando cerca de 5.000 manifestantes tentaram chegar ao Palácio do Governo, em Quito, para tirar Bucaram à força e foram reprimidos pela polícia, o clima é de tranquilidade.
Desde o agravamento da crise no país, provocada na realidade pelos aumentos brutais de tarifas públicas, houve uma morte em passeatas (em 21 de janeiro).
Na manhã de ontem, porém, moradores de Quito andavam calmamente pelas ruas da região norte da cidade. "O problema nosso é trocar de presidente. Só não sei qual, mas nem por isso vou ficar enfiado em casa com medo", disse Milton Abado, que comprava jornal na avenida 6 de Diciembre.

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